segunda-feira, maio 16, 2011

Muro de Tudo


Muro de tudo e de todas as partes é um título meu, o original da obra é The Spice of Life (tradução livre, O Tempero da Vida), do artista plástico Jamie McCartney. Antes de comentar sobre o artista (isso já está feito aqui) gostaria, de modo certamente impressionista, de justificar o título que subscrevi na obra. E já que a abordagem é impressionista e "subjetiva", prometo (e espero) que seja curta, ao menos. E peço-lhes indulgência com o necessário excesso de primeira pessoa das minhas impressões.
Seios, um pau mole seguido de um ereto, mais peitos e paus, mole e duro novamente, peito vaginas e ponto. Na outra linha mais vaginas peitos e vaginas e assim segue em texto o mural temperado da vida. Diferenças expostas e sequenciadas trazem a surpresa de uma grande indiferença ante a cadeia monótona das saliências e buracos do corpo. E apesar da notória ausência de cus, essa lacuna não compromete a obra.
Essa cadeia é metonímica por excelência, os termos deslizam de parte à parte, como um discurso, sintagmaticamente, o que está atrás seguido do que está à frente, parte à parte, ou melhor, parte e parte. Nesse discurso, todavia, não há lugar para metaforização, apenas para o recorte e a mudança diferida e indiferenciada de trechos recortados do corpo. Trechos podem ser lidos como representações de "totalidades", sobretudo se pensarmos psicanalíticamente, lembraríamos rapidamente da retórica de Freud ao se desculpar pela monotonia do discurso analítico de repetir sempre "o falo, a falta, papai, mamãe". Monotonia reforçada pela branco da coloração e o realismo da forma, como em um texto. Aqui a buceta não é como uma flor, o pau não é como uma espada - não, aqui isto é isso mesmo.

E daí? Qual o problema disso afinal? De buceta ser exatamente buceta, assim como um pau tão somente um pau? Do mapa confundir-se com o mapeado, do continente com o conteúdo?
Nenhum muito grave, apenas a morte da poesia.

Ensaios do jovem Anísio