"E desde quando ele está assim, fora do ar?", perguntou o dr. Nestor, olhando para aquele homem com olhar esgazeado, cabeça inclinada para o lado e nenhum movimento nos braços e nas pernas.
"Desde agora de manhã, doutor", respondeu Rosa, a esperançosa, esposa de Alaor, o torcedor. "Ele terminou de ler o caderno de esportes e, de repente, pluft, eu vi que ele tinha entornado a xícara de café."
"Mmm", disse o médico.
"O senhor poderia dar um diagnóstico?"
O médico então levantou, andou em círculos e, quando já estava ficando um pouco tonto, falou: "Ele está com SACO."
"Mas o Alaor sempre esteve com ele e nunca ficou assim."
"Não, minha senhora, SACO é a sigla para "Síndrome de Abstinência de COpa. É uma doença grave, que surge de quatro em quatro anos."
Dona Rosa coçou a cabeça. O médico entendeu que ela não havia entendido e explicou que, até agora, todos os dias da Copa tiveram jogos, e assim criou-se no cérebro dos torcedores uma espécie de dependência neuroquímica. "O que aconteceu com seu marido é que, ao ler o caderno de esportes e ver que nenhum jogo estava programado até sexta-feira, ele entrou num estado catatônico".
"Mas por que não tem nenhuma partida hoje?!"
"Na sexta teremos duas e outras duas no sábado."
"Duas nestes dias e nenhuma hoje?"
"Parece que a tabela foi bolada por uns brasileiros chamados Tico e Teco, que trabalhavam na CBF", explicou o dr. Nestor.
"E enquanto isso, o que eu faço?"
"Vamos tentar um tratamento paliativo: sintonize a tevê nos canais esportivos, que hoje devem transmitir algumas mesas redondas e uns videoteipes; durante as refeições, toque um CD com os hinos dos países da Copa e, se possível, alimente-o só com o que costuma comer em frente à TV: pipoca, batatinhas, cerveja e amendoim japonês."
"Farei isso, doutor. Obrigada."
"Obrigada, não. São R$ 200."
Sem remédio, a doce Rosa fez um cheque e pagou a salgada conta.
Voltando para casa, ela sintonizou um programa esportivo. Uma lágrima caiu pelo seu rosto quando ela viu Alaor mexer alguns dedos da mão direita.
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