Grupos privados abrem o capital no mercado financeiro e iniciam novo ciclo no setor, baseado em fusões, aquisições e na disputa por alunos de menor renda.
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Por João Marcello Erthal e Lívia Perozim. Carta Capital. Edição 466.
No saguão da Bolsa de Valores de São Paulo, o professor Antonio Carbonari estica o terno, posa para um fotógrafo e faz planos de estampar, ao lado de marcas consagradas no pregão, o nome da Anhanguera Educacional. “Estamos no verde, significa que subimos. Fantástico”, diz o empresário, recém-chegado ao mercado financeiro, embasbacado com o sobe-e-desce das ações.
Carbonari está encantado e tem suas razões. Seis meses após a abertura de capital, a Anhanguera havia captado 512 milhões de reais, resultado excepcional para uma empresa tão nova na Bolsa. Outros dois grupos educacionais seguiram o mesmo caminho.
O Kroton, da rede Pitágoras, que tem entre os sócios o ministro Walfrido dos Mares Guia, conseguiu 479 milhões de reais. A Estácio Participações, controladora da Universidade Estácio de Sá, do Rio de Janeiro, embolsou 447 milhões. O COC, do interior paulista, está em negociação com os investidores.
Outras tantas escolas estão ávidas por participar da bonança financeira que o ensino superior atravessa, nova aposta dos investidores brasileiros e estrangeiros. “Vejo o mercado de educação como um supermercado. Estou vendendo um produto. Só que, em vez de vender tomate, meu produto é um assento para o aluno estudar”, compara o economista Marcelo Cordeiro, da Fidúcia Asset Management, especializado em buscar investimentos para o setor.
O efeito dessa onda de dinheiro novo nas faculdades, por meio da Bolsa de Valores, deve ser a concentração de mercado. Anhanguera, Kroton e Estácio já figuram entre os maiores grupos brasileiros. Só a Estácio tem 185 mil alunos. Quanto mais aplicadores atrair, mais as faculdades e universidades terão de apresentar resultados financeiros satisfatórios.
Em geral, a forma mais fácil de crescer é adquirir ou se fundir a um concorrente. Resultado: a abertura de capital vai levar necessariamente à consolidação dos gigantes do ensino. “A concentração é um caminho sem volta. Já aconteceu nos Estados Unidos e vai acontecer aqui. Quem ficar de fora está morto”, prevê Cordeiro.
Os limites da mercantilização estão, para o secretário de ensino superior do Ministério da Educação (MEC), Ronaldo Mota, na preservação da qualidade do ensino. “O setor privado ocupou o lugar que o público não conseguiu ou não quis ocupar”, admite, ressaltando que, apesar de este novo mercado se mostrar lucrativo, cabe ao governo fazer com que a educação não seja confundida com mercadoria.
“A Constituição diz que o ensino é livre à iniciativa privada, desde que cumpra as regras gerais da Educação Nacional. Temos de avaliar e regulamentar para que isso não se torne uma simples disputa de mercado, o que pode fazer com que a instituição de qualidade sofrível, com valores de mensalidade menores, sacrifique as instituições de mais qualidade. A missão agora não é sufocar o crescimento do sistema privado, mas garantir que ele seja feito com controle de qualidade”, afirma.
Manter o controle sobre o setor privado representa, por causa do tamanho que as instituições particulares alcançaram no Brasil, um desafio de grandes proporções. Há, hoje, no País 2.141 escolas superiores privadas, que reúnem 4,4 milhões de alunos. As públicas somam 257 e têm 1,4 milhão de estudantes.
Para o cientista político Edson Nunes, presidente do Conselho Nacional de Educação (CNE) e Pró-Reitor de Desenvolvimento e Planejamento da Universidade Candido Mendes, o ensino superior expandiu-se exclusivamente ao sabor do mercado.
“O País deliberou, ou vem deliberando, se preferirmos, expandir os cursos superiores por meio do setor privado. Mas não tomou um conjunto de outras medidas necessárias a, de um lado, tirar vantagens dessa deliberação, e, de outro, adequadamente administrar suas premissas e conseqüências”, analisa, no estudo Desafio Estratégico da Política Pública: o Ensino Superior Brasileiro, concluído em julho deste ano.
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