A morte do morto
Velhas ainda choram pelo pedagogo morto há dois mil anos.
Chega, já demos demasiada atenção ao inimigo. E como é sabido, por todo e qualquer marketeiro de padaria: falar do inimigo (mesmo que mal, ou com justeza, ou os dois ao mesmo tempo) é duplicar a atenção sobre ele, o chavão é bem conhecido para precisar ser citado. Não se despreza algo que não se pode prezar. O último diálogo postado foi tudo, enfim, como o título mesmo diz e Buckowski aconselhava, precisava vomitar para não enlouquecer.
Adeus.
P.S.: Bem, uma ultima gota de vômito? Permitam-me por obséquio? Caso não me permito, eu mesmo. Meu estômago ainda está embrulhado de comida, parca, insossa apesar de muito óleo, temperos e gorduras bolorentas, a língua sentia reentrâncias pequeninas e duras. Tudo para disfarçar o odor de poder, e, resignado, tive de ingeri-la. Meus ouvidos não se fecharam – nada há de mais inútil que um órgão. Pois bem, vamos ao nosso mal do dia: o construtivismo. Talvez o pior mal, o cordeirinho disfarçado de lobo, o que seria parecido com um pequenez sem dentes, e como nossas madames fazem nos prédios, sem cordas vocais também. A idéia básica construtivista é que não somos uma tabula rasa, um zero absoluto – somos, mais precisamente, o quase – e trazemos, (prefiro dizer carregamos), dentro nós, juntamente com o sangue, água e fezes, algo que contribuirá para a criação do conhecimento, afinal, o saber é uma obra. Enfim, pés pelas mãos são trocados. É fato, eles não sabem o que fazer com seus órgãos. Uma coisa é dizer que sempre sabemos de algo, e que de acordo com um determinado campo de vista, chaves de leituras, estruturas conceituais, que vamos ajuntando os saberes. E é desse nos desse estranho arquivo (que esquece mais do que lembra) que nos servimos para ver e dizer, enfim, para pensarmos, em um só termo: sinapses, eletricidade para lá e para cá. Ou seja, dizer que interpretamos sempre não é o mesmo de que já sabemos sobre o saber, (do objeto ou do sujeito, ora, isso pouco importa, se a porta ou o homem). E como se pedissem anós que saibamos antes mesmo de saber. Entaõ, a pergunta é óbvia, para que professores então? Se construtivismo só significar, que, as coisas e os saberes são construídos um dia, tudo bem, não há nada com ele, mas ele o diz para dizer outra coisa. A mão que bate, também cospe. Esse falsário se esconde na pele de muros e estruturas, construções, formas e funções, mas, no fim das contas é essêncialista até o talo - uma palavra até elegante para moralista.
Calma, me explico melhor, deixemos esta crítica em suspenso; ela voltará por si mesma.
É preciso de muito mais do que bocas sedentas de atenção para pensar: é preciso de ouvidos, atentos, inquietos, soturnos, sinapses e sinapses. E outra, dizer, como aliás dizem, que ali, na aula, na hora da escuta, todos compreenderão e poderão inferir de acordo com seu vizinho, a mulher do irmão, a cunhada, é repetir o velho bordão: tome o desconhecido pelo conhecido, o geral pelo particular, o mais complexo pelo mais simples, enfim, torne tudo do mesmo: para o mesmo. E quando não souber mais de nada, diga simplesmente abre-te Sésamo, desculpe, os bordões sempre me confundem, diga: Deus! Tanto trabalho, tanta ciência e ainda o velho esquema Sócrates-Platão, não há conhecimento, mas sim reconhecimento. O mundo já repousaria assim, imóvel arquétipo em nossa própria alma, impregnaria a substância do dentro. È claro, neste modelo do truísmo reconhecido – ou o óbvio espelhado – não poderemos saber mais que o mesmo (e nem isso), nada além do mesmo; teremos que dar as batatas ao velho senso comum. Pensando bem, talvez, a ciência, como disse um autor, não me recordo sobrenome, seja afinal, (isso mesmo): nada além de um senso comum, um pouco mais sofisticado, retórico (complementaria), se não fosse tão pobre de palavras. E, no entanto, não precisamos remontar o que aconteceu com a criaturinha tacanha e nascísica – essa figurinha que só a si reconhece – esse homem do desconhecimento; esse homem que delirava saber demasiado, pois sabia tudo que não sabia. Alguém pode imaginar isso, saber tudo que não sabe? “Só sei que nada sei”?
Seria preciso inverter o mito da caverna (mas deixemos isso para depois). E é justamente aí (em outro lugar), na colisão, hiância e nunca ajustamento, que o não-ser se esparrama por todos os lados, por todos os buracos, olhos, poros, cus, narizes, dedos, mesas, cadeiras: internos e externos, e em todas as direções, o sangue borra todas as margens, as bordas de tudo que pode ser dito por dentro; a mancha borrada é também o nada que é o fora. Foraclusão, um amigo muito estimado já disse. Enfim, srs. pedagogos, só pedimos uma coisa: que falem, caso tenham algo a nos dizer, ou conheçam o silêncio, e então se calem.
P. S. 2: Essa gota foi quase um rio... sic. Agora sim, definitivamente – adeus.
P.S: Que medida medirá o litro do vômito virtual?
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Restos: Pensar é produzir sinapses, mas precisamos de matéria para isso e não somente de lembranças, é exterioridade, viagem: a arquetipia é uma forma desgastada, seus símilis tomaram posse da origem, de modo que a última cópia é a mais perfeita, o original é apensas sua sombra e vaga lembrança – já esquecemo-la.
Um exemplo, o que alguém que nunca estudou historiografia sabe sobre o século XVII? História é sacanagem pode-se objetar, tudo bem, sigamos com outro exemplo: psicologia, que aparentemente é algo que todos temos?