quarta-feira, novembro 26, 2008

Sobre cinéfilos e leitores


Chegou com duas horas de antecedência ao cinema, a bilheteria ainda fechada; entrou pelas grandes portas de vidro, notou o ambiente vazio nas cadeiras do café. Uma funcionária passava pano nas máquinas. Perguntou-lhe se estava, naquela sala de cinema, passando o novo filme do grande Zé do Caixão, mas perguntou-lhe para puxar uma conversa, pois sabia precisamente o horário de todas as sessões. A resposta que teve da funcionária, que tinha lá seus encantos, consistiu, sem sequer erguer os olhos para notá-lo, em apontar para o quadro de avisos. Desencorajou-lhe as intenções: uma conversa ou debate sobre a riqueza do grande cineasta, que conhecera nas idas exibições do cinetrash.

Sentou na frente do cartaz, um tanto eufórico. Dali a algumas horas estaria no escuro em companhia do grande mestre do horror: “Jece Valadão morreu, e está neste filme!”, repetiu mentalmente esta antiga constatação e foi dar uma volta pelo desconhecido edifício.

Em todo prédio, fora a mulher do café, avistou apenas um guarda na entrada, folheando seus jornais, e um rapaz debruçado sobre um livro na entrada de uma galeria. Descobriu que havia ali um jardim e julgou-lhe agradável, até bonito, ansioso que estava, não se deteve nem por um minuto. Quando virou-se para dar de costas, avistou um vulto e retornou para constatar se real, na mesma direção, um beija-flor riscava a paisagem na direção da momentânea miragem.

Não era um fantasma: o rapaz, talvez um adolescente, que antes debruçava-se veemente sobre o livro sem cor, saiu para fumar um cigarro. Não pensou duas vezes e seguiu na direção do fumante, como um lince selvagem, lento, com as mãos nos bolsos de seu jeans claro e bastante grudado às pernas, e com um conhecido sorriso, difícil de não ser interpretado como a mais afável das cordialidades: “Olá!”. Recebeu em troca um sorriso... O entusiasmo lhe remexeu os ânimos e chegou a mostrar muitos de seus dentes perfeitos, num largo sorriso em retribuição àquela demonstração, julgava extremamente cordial.

“Ah, você sabe de que horas abre a bilheteria do cinema?”, foi a primeiríssima pergunta dirigida ao fumante. Ficou então sabendo que trinta ou quarenta minutos antes de cada sessão os ingressos estão disponíveis. Rapidamente calculou que em uma hora e meia, no máximo, estaria com seu valioso ingresso. “Cheguei cedo porque, você sabe, nunca se sabe...!” Como se seu interlocutor não o entendesse, explicou-lhe que Zé do Caixão poderia surpreender a bilheteria, e que por nada no mundo perderia a primeira sessão do primeiro dia. “Será que vem muita gente aí?”, continuou puxando a conversa que desaguaria irremediavelmente nos méritos do grande José Mojica.

“Pode ser...!” Foram suas últimas palavras, pois, o fumante, logo em seguida, depois de um poderoso trago de seu cigarro pela metade, jogou-o fora e despediu-se com as costas, partindo a toda velocidade para sua cadeira.

O cinéfilo não entendeu nesse gesto uma fuga. Apenas pôde reparar, pelo pouco que seguiu atrás, que seu interlocutor curvava-se novamente com grande apetite sobre o livro branco que tinha em mãos. Seguiu o fumante, entrou na galeria e parou ao seu lado. Este não o notou, ou não o quis. “Tá lendo?”, foi a pergunta que veio a mente. O leitor fumante fechou os livros lentamente, fechou os olhos e, depois de um longo suspiro, mostrou-lhe a capa do livro.

“Ah, então você gosta de cinema? Deve conhecer Zé do Caixão...!” Estas foram suas últimas palavras antes de ter seu pescoço perfurado por três lápis de pontas 9B, meticulosamente afinados com estilete.

Sobre os motivos que levaram o leitor fumante a cometer tal gesto, não podemos nada supor a não ser que, talvez, não estivesse em seus melhores dias. Entrementes, é certo que o cinéfilo pôde se orgulhar, nos últimos instantes antes de seu sangue o abandona-lo por completo, que honrara com sua morte o grande cineasta: o inimitável Zé do Caixão.



sábado, novembro 22, 2008

Monstro Marinho ou assombrosas criaturas do oceano de plástico


Esta reportagem foi sugerida por enviados do aberrablog a recônditos bizarros do mundo não menos bizarro.

O site do jornal russo Pravda noticiou a descoberta de um bizarro monstro marinho, encontrado na Costa da Guiné, país da África ocidental. A espécie, ainda não identificada, estava parcialmente em estado de decomposição, mas sua estrutura revela claramente a presença de quatro patas, um rabo e, o mais estranho de tudo: pêlos.

Os cientistas locais que examinaram a criatura dizem que já tinham visto a espécie antes, mas que não têm a menor idéia de como defini-la. O monstro marinho continua sendo uma incógnita para a ciência.

Graças ao nosso acurado centro de pesquisas infames, descobrimos em algum lugar da rede, que a reportagem a cima, não passa de sensacionalismo barato: não especifica o lugar, qual Guiné? E os cientistas, são biólogos, astrólogos, físicos ou o quê? Enfim, nada. No final, o arguto repórter de algum lugar, referido acima, chega a uma inexorável conclusão: é uma baleia. Pensamos em postar em anexo, mas honestamente, que merda! Preferimos a tese do monstro marinho. E mais, sobre os pêlos? O dito reporter não fala absolutamente nada sobre os pêlos do Monstro. Baleia com pêlos? Mentiras podem até ser cabeludas, mas baleias? Só temos uma certeza:


Isto não é uma Baleia!

Reportagem extraída e deturpada sem autorizações.

quarta-feira, novembro 19, 2008

A Bolsa Caiu

Olá amigos que acompanham meu blog. Estive ausente nos últimos dias, pois estava bastante ocupado. Vocês sabem, pois assistem TV e lêem jornal, que o mundo está em crise. Hoje, oficialmente, o Japão admitiu estar em crise. Os japoneses perderam o costume de comprar uma televisão de 98 polegadas a cada ano. Agora, só comprarão de dois em dois anos. Nesse último fim de semana, praticamente não dormi, acompanhando o sobe e desce (mais desce do que sobe!) da bolsa de valores. Tentando me esquivar da crise que assola o sistema financeiro dos países do primeiro mundo, comprei ações das bolsas ditas periféricas. Meus amigos, não foi nada fácil! A bolsa de Macau fechou, na madrugada de sábado para domingo numa vertiginosa queda de 7.84% afetando minhas ações na Woo-Ping, empresa que fornece bamboos para os pandas chineses, normalmente lucrativa. Devido a essas intempéries, tive que me desfazer da metade das minhas terras na Suazilândia, vendendo parte da minha savana para uma empresa sulafricana de turismo.

O pior de tudo foi imaginar que enquanto muitas pessoas se divertiam em festas e eventos, eu tentava acompanhar, simultaneamente, o desenrolar das bolsas de Macau e Islamabad, através de uma rádio de Bangalore, que trata única e exclusivamente de assuntos ligados ao comércio internacional. Se não fosse esse tão importante meio de comunicação, com certeza absoluta, não restaria nem uma foto de zebra das minhas terras suazilandesas. A recessão continuará e quem não estiver engajado em defender seu patrimônio, como estou, poderá ficar à mingua do novo reinado de Genghis Khan que se aproxima. Sim, um império do oriente se aproxima mais uma vez e promete não aliviar com o ocidente. Logo agora, que o mundo judaico-cristão (que expressão batida) parece ter encontrado certa homogeneidade! A Europa, por exemplo, já não briga entre si e criou até uma União oficializada. Nos Estados Unidos, um negro foi eleito presidente e em breve os mexicanos poderão ser considerados cidadãos! Se até os Estados Unidos e o Japão estão em crise com a (pós) modernidade, que diremos nós pobres seres individuais, indefesos e tristes. O citibank vai fechar o halifax já embarcou dessa pra uma pior. Não existe crise sem mortes.
Meus amigos, sugiro que mantenham suas reservas de ouro e diamante para o ano de 2009, que promete ser o ponto culminante dessa crise. O barril de petróleo está por 55 dólares, uma ninharia! Ainda esta semana viajarei para Frankfurt para dar uma palestra para banqueiros estonianos e finlandeses, preocupados com a diminuição dos preços do pescado no Mar Báltico. Espero que nesses próximos dias o dólar se estabilize no Brasil, tenho grande confiança no meu amigo particular, Dr. Henrique Meirelles, que vai saber contornar a crise internacional sem mergulhar a nação emergente no buraco. Só volterei ao Recife no dia 26 de Outubro, precisamente para assistir o show de Tom Zé. Daqui pra lá, meu nome é trabalho! Os acionistas necessitam de minha especulação e minha agenda está cheia. Mas, prometo postar notícias dos lugares por onde andarei. Estou com a idéia de falar algo sobre a banda inglesa, Queen. Uma banda tão ímpar que o guitarrista Brian May foi o primeiro roqueiro da história a ser PhD em alguma coisa. Ele escreveu sobre a teoria do Big Bang. Isso é papo pra outra história. Falando em história, ninguém deu nome pra essa crise. O surgimento do universo é o Big Bang, a quebra da bolsa em 1929, ficou conhecida como o Crack de Nova Iorque. Aquí no Recife, a crise do Crack é outra e tem arrastado até fusquinha das ruas. Daqui pra Frankfurt vou propôr um nome oficial pra essa crise, quem sabe "Tsunami Financeira", "Aviões em Mannhattan", ou ainda "Nem Osama nem Obama, volta Bush de Lama". Daqui pra lá, espero que a minha fertilidade mental reapareça. Saudações alvirubras! 5x2. Pelas bandas dos Aflitos a crise se foi. Abraço.

Extraído sem autorização do Blog: Céu Sem Fronteiras

terça-feira, novembro 18, 2008

Agreste Psicodélico

Por Cristiano Bastos

A trilha em busca das origens de Paêbirú, o disco maldito de Lula Côrtes e Zé Ramalho, hoje o vinil mais caro do Brasil.

No dia 29 de dezembro de 1598, os soldados liderados pelo capitão-mor da Paraíba, Feliciano Coelho de Carvalho, encalçavam índios potiguares quando, em meio à caatinga, nas fraldas da Serra da Copaoba (Planalto de Borborema), um imponente registro de ancestralidade pré-histórica se impôs à tropa. Às margens do leito seco do rio Araçoajipe, um enorme monólito revelava, aos estupefatos recrutas, estranhos desenhos esculpidos na rocha cristalina.

O painel rupestre se encontrava nas paredes internas de uma furna (formada pela sobreposição de três rochas), e exibia, em baixo-relevo, caracteres deixados por uma cultura há muito extinta. Os sinais agrupavam-se às representações de espirais, cruzes e círculos talhados, também, na plataforma inferior do abrigo rochoso.

Inquietado com a descoberta, Feliciano ordenou minuciosa medição, mandando copiar todos os caracteres. A ocorrência está descrita em Diálogos das Grandezas do Brasil, obra editada em 1618. O autor, Ambrósio Fernandes Brandão (para quem Feliciano Coelho confiou seu relato), interpretou os símbolos como "figurativos de coisas vindouras". Não se enganara. O padre francês Teodoro de Lucé descobriu, em 1678, no território paraibano, um segundo monólito, ao se dirigir em missão jesuítica para o arraial de Carnoió. Seus relatos foram registrados em Relação de uma Missão do rio São Francisco, escrito pelo frei Martinho de Nantes, em 1706.

Em 1974, quase 400 anos depois da descoberta do capitão-mor da Paraíba, os tais "símbolos de coisas vindouras" regressariam. Dessa vez, no formato e silhueta arredondada de um disco de vinil. A mais ambiciosa e fantástica incursão psicodélica da música brasileira - o LP Paêbirú: Caminho da Montanha do Sol, gravado de outubro a dezembro daquele ano por Lula Côrtes e Zé Ramalho, nos estúdios da gravadora recifense Rozemblit.

...

Leia o texto na íntegra no link abaixo:

http://www.rollingstone.com.br/edicoes/24/textos/3426/

O disco Paêbirú pode ser encontrado em:

http://brnuggets.blogspot.com/2006/10/lula-crtes-z-ramalho-pabir-1975.html