Antes de todo o começo vem a espera; acendo um cigarro; é... este maldito amigo faz com que os minutos de espera sejam melhor digeridos, ou melhor dizendo, tragados. Até me faz querer que o ônibus não chegue enquanto o cigarro não houver acabado. Mas para o meu azar não chego a dar dois tragos e aquele monstro de ferro, vidro e gente chega.
Joguei apressado o cigarro e a primeira de uma série de batalhas tem início: 1- tentar adivinhar onde diabos o motorista vai parar e tentar me posicionar da melhor forma; 2- há muita gente levantando os malditos dedos e, se, somente se o ônibus não estiver lotado, e ficará (o que reforça minha angustia de número 1), sentarei.
Tento subir no ônibus da maneira mais polida possível, mas, acabo por perder a paciência com um velho manco, que além de feder, acha que pode ficar empurrando as pessoas que estão a sua frente na fila; eu findei por dar um solavanco no velho fedido, e subi abruptamente gerando alguns comentários indignos de nota. Enfim reflitam comigo (é sério!), o velho teria a sua cadeira garantida e se não fosse velho o suficiente era manco, e eu não... às vezes é realmente um incomodo não pertencer a nenhuma minoria.
Fiz tudo certo, e como era de se esperar de nada adiantou: o ônibus estava completamente lotado, eu logo começava a pedir: - “Licença... licença...”. Quando comecei toda a estratégia de disputa por um lugar no ônibus... as pessoas se aboletavam nos lugares onde provavelmente aquela pessoa sentada não tardaria a descer, e com muito esforço, consegui me encaixar entre dois sovacos, para guardar com muito afinco meu lugar. Tudo bem que tivesse alguém sentado em "meu" lugar, mas com sorte este dono temporário não tardaria a descer.
Estava eu entre duas axilas num empurra-empurra daqueles, e como as desgraças nunca são poucas, o motorista dirigia feito um louco, um condutor de carro-de-boi, um maquinista de trem fantasma onde todos estão mortos mesmo; onde não haveria motivos para dirigir com cautela. O que quase instantaneamente me lembrou uma música dos Raimundos em sua fase áurea, quando se preocupavam com as mazelas cotidianas nacionais. A música é “Esporrei na manivela” e o trecho que acho que se encaixa perfeitamente, como uma lei, sem analogias é: “No coletivo o que manda é a lei do pau/ Quem tem, esfrega nos outros/ Quem não tem só se dá mal...”. Isso realmente me incomodou muito. Tinha a sensação de que dentro de pouco seria estuprado, aí pensei aflito nas mulheres que não tem, pensei também em toda a luta feminista da emancipação do sexo não-tão-frágil-assim, e cheguei a uma sábia conclusão e espero que sirva a luta feminista: a emancipação real das mulheres é impossível enquanto houver coletivos. Depois parei pra olhar uma doida gostosinha...
Continua...
Joguei apressado o cigarro e a primeira de uma série de batalhas tem início: 1- tentar adivinhar onde diabos o motorista vai parar e tentar me posicionar da melhor forma; 2- há muita gente levantando os malditos dedos e, se, somente se o ônibus não estiver lotado, e ficará (o que reforça minha angustia de número 1), sentarei.
Tento subir no ônibus da maneira mais polida possível, mas, acabo por perder a paciência com um velho manco, que além de feder, acha que pode ficar empurrando as pessoas que estão a sua frente na fila; eu findei por dar um solavanco no velho fedido, e subi abruptamente gerando alguns comentários indignos de nota. Enfim reflitam comigo (é sério!), o velho teria a sua cadeira garantida e se não fosse velho o suficiente era manco, e eu não... às vezes é realmente um incomodo não pertencer a nenhuma minoria.
Fiz tudo certo, e como era de se esperar de nada adiantou: o ônibus estava completamente lotado, eu logo começava a pedir: - “Licença... licença...”. Quando comecei toda a estratégia de disputa por um lugar no ônibus... as pessoas se aboletavam nos lugares onde provavelmente aquela pessoa sentada não tardaria a descer, e com muito esforço, consegui me encaixar entre dois sovacos, para guardar com muito afinco meu lugar. Tudo bem que tivesse alguém sentado em "meu" lugar, mas com sorte este dono temporário não tardaria a descer.
Estava eu entre duas axilas num empurra-empurra daqueles, e como as desgraças nunca são poucas, o motorista dirigia feito um louco, um condutor de carro-de-boi, um maquinista de trem fantasma onde todos estão mortos mesmo; onde não haveria motivos para dirigir com cautela. O que quase instantaneamente me lembrou uma música dos Raimundos em sua fase áurea, quando se preocupavam com as mazelas cotidianas nacionais. A música é “Esporrei na manivela” e o trecho que acho que se encaixa perfeitamente, como uma lei, sem analogias é: “No coletivo o que manda é a lei do pau/ Quem tem, esfrega nos outros/ Quem não tem só se dá mal...”. Isso realmente me incomodou muito. Tinha a sensação de que dentro de pouco seria estuprado, aí pensei aflito nas mulheres que não tem, pensei também em toda a luta feminista da emancipação do sexo não-tão-frágil-assim, e cheguei a uma sábia conclusão e espero que sirva a luta feminista: a emancipação real das mulheres é impossível enquanto houver coletivos. Depois parei pra olhar uma doida gostosinha...
Continua...
por (A)berração
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