quarta-feira, novembro 28, 2007
instalar um sistema de medição e controle de abalos sísmicos, que cobre
todo o país. O então recém-criado Centro Sísmico Nacional, poucos dias após entrar em funcionamento, já
detectou que haveria um grande terremoto no Nordeste do país. Assim, enviou um telegrama à delegacia de
polícia de Icó, uma cidadezinha no interior do Estado do Ceará. Dizia a mensagem:
"Urgente. Possível movimento sísmico na zona. Muito perigoso. Richter 7.
Epicentro a 3 km da cidade. Tomem medidas e informem resultados com
urgência."
Somente uma semana depois, o Centro Sísmico recebeu um telegrama que dizia:
"Aqui é da Polícia de Icó. Movimento sísmico totalmente desarticulado.
Richter tentou se evadir, mas foi abatido a tiros. Desativamos as zonas.
Todas as putas estão presas. Epicentro, Epifânio, Epicleison e os outros cinco irmãos estão detidos. Não
respondemos antes porque houve um terremoto da porra aqui e fudeu tudo......."
Provos (pt. 1)
Como bons anarquistas que eram, os Provos (corruptela do termo "provokatie", ou "provocação") não chegaram a caracterizar um movimento organizado, menos ainda uma ideologia. A intenção desses jovens tresloucados do início dos anos 60 era debochar o mais cinicamente das tradições monárquicas holandesas da Casa Real de Orange e sua protegé , a burguesia consumista - o que, como veremos, conseguiram fazer com o máximo de diversão e ousadia. Ao contrário de seus irmãos caçulas, os românticos hippies, não desejavam mudar o mundo: " Não podemos convencer as massas, e talvez sequer nos interesse fazer isso. O que podemos esperar deste bando de apáticas, indolentes, tolas baratas? É mais fácil o sol surgir no oeste do que eclodir uma revolução nos Países Baixos (...) O homem médio é um comedor de repolhos, improdutivo, não-criativo, emotivo. Alguém que se diverte fazendo fila nos guichês", dizia a primeira de uma incendiária série de edições de revistas "Provo". E ainda: "Provo tem consciência de que no final perderá, mas não pode deixar escapar a ocasião de cumprir ao menos uma qüinquagésima e sincera tentativa de provocar a sociedade".
Os happenings
E assim começaram em 1962, através de um formato que seria permanentemente adotado para zombar do status quo até o fim da galhofa, em 1967: o happening, evento efêmero que mistura arte e performance em locais públicos, criado em 1959 em Nova Iorque e imediatamente assimilado pelos artistas de vanguarda do mundo. Os heterogêneos Provos não eram exatamente artistas, mas tomaram o modelo emprestado e o executaram a sua maneira extravagante, a princípio com o único objetivo de espantar o tédio das conformidades. Happenings bizarros começam a espocar em Amsterdam: um sujeito escancara as portas e janelas de sua casa no auge do inverno, abre as torneiras, deixa a água congelar no chão e chama uma patinadora para exibir-se para os transeuntes curiosos; outro amassa papéis, com os quais recobre seu quarto, a calçada e os carros estacionados, gravando o ruído do amassado para posterior exibição em concertos nesta especialidade; dois times de ciclistas despem-se enquanto pedalam, até chocarem-se nus uns contra os outros. No entanto o caso mais assombroso foi o de Bart Huges, um estudante de medicina que em 1958 havia servido de cobaia nos experimentos com LSD na Universidade de Amsterdam. Huges realizou trepanação na própria caixa craniana (quer dizer, fez um furo no meio da testa com uma broca de dentista) e retirou o curativo para uma platéia ao som de tambores. Ele acreditava que seu "terceiro olho permanentemente aberto" lhe expandiria a consciência para sempre - e, é claro, aproveitou a oportunidade para chocar a massa incrédula.
Os caras eram do barulho, mas se até hoje você jamais havia escutado falar deles, a culpa não é sua. Matteo Guarnaccia explica que, além do simples fato do bando de doidos Provos estar circunscrito à Holanda, alardeando suas causas válidas e idéias cretinas através dos tablóides escritos em holandês, a ele "faltou também aquele megafone fundamental representado pela música pop. Se no mundo anglo-saxão o movimento pacifista e alternativo pôde contar com grupos ou cantores de música folk para amplificar e difundir sua mensagem, nada parecido aconteceu na Holanda, do ponto de vista musical". As excursões Provo para fora da Holanda foram poucas e breves. Passaram pelo Marrocos, Ibiza, ilhas gregas (antecipando-se em pelo menos quatro anos às badaladas migrações hippies) e estabeleceram-se por algum tempo em Londres, tornando-se ícones da casta de artistas psicodélicos. Foi quando desenharam os figurinos de Sgt Pepper´s, e a Provo Marijeke Koger tornou-se a grande estilista dos malucos ingleses, aproveitando para executar um happening onde fez a dança dos sete véus inteiramente nua, pintada com cores fluorescentes.
Cigarros, só Marihu
Foi em 62, com Robert Jasper Grootveld, que a saga começa a tomar um formato mais ou menos definido. Grootveld, um fumante inveterado, decide começar uma hilariante campanha antifumo por Amsterdam, por onde anda totalmente fantasiado de feiticeiro africano, pintando a palavra "câncer" sobre todos os cartazes publicitários de cigarros das ruas. Foi preso algumas vezes, chegando, gratuitamente, às mesmas páginas de jornais que as corporações de tabaco pagam milhões para anunciar. Uma vez solto, usou um casebre velho numa região boêmia para realizar rituais antifumo que atraíam cada vez mais pessoas; mais tarde, transferiria os eventos para a praça Spui que, além de exibir uma estátua presenteada pela Hunter Tobacco Company para a cidade, ficava estrategicamente próxima à maioria das redações dos jornais
Em 64, no clímax de seus protestos, já considerado um herói na cidade, Grootveld junta-se a Bart Huges para lançar o Marihu Project, um plano para reivindicar a legalização da maconha (afinal consideravam o cigarro uma "droga legalizada") e tirar um sarro da polícia. Espalharam por Amsterdam centenas de maços pintados à mão com desenhos fluorescentes, contendo baseados feitos com folhas secas catadas dos parques, algas, palha, pedaços de cortiça e também, naturalmente, a boa e velha cannabis. Concomitantemente, fazem circular cartas com as regras do jogo: "Cada um pode fabricar sua Marihu (...) Cada qual pode criar suas próprias regras, ou omiti-las". O happening é um sucesso retumbante, em pouco tempo as centrais telefônicas da polícia estavam congestionadas com chamadas anônimas de cidadãos denunciando os próprios vizinhos como usuários de maconha, a maioria delas feitas pelos próprios Provos para causar confusão. Os homens da lei são obrigados a um ritmo de trabalho estressante, chegando a declarar para a imprensa que a situação começava a se tornar "problemática". Grootveld observa, muito apropriadamente: "Para dar caça a alguns consumidores de erva, uns agentes, notórios consumidores de nicotina, efetuam incursões-surpresa, que depois são propagandeadas na imprensa, mediante artigos escritos por jornalistas amiúde alcoolizados e lidos por um público que, por sua vez, é escravo da televisão ou da nicotina. Quem tem direito de dizer ao outro que não deve consumir uma determinada substância?"
Imagens:
Internationaal Instituut voor Sociale Geschiedenis
Provos (pt. 2)
Em 65, reuniões na Spur à toda, a própria família real holandesa dá a deixa para a institucionalização da zorra Provo. A princesa Beatriz decide casar-se com Claus von Amsberg, um diplomata alemão que servira nas fileiras do exército nazista. Sofisticadas manobras políticas foram executadas, nos bastidores, pela Casa Real de Orange para reverter a péssima repercussão inicial que o noivado conseguiu junto à população e à imprensa. Quando o mal-estar parecia contornado, chega às ruas a terceira edição do tablóide Provo, atacando o futuro príncipe por todos os lados. O provotariado os esconde dentro dos jornais matutinos, sobretudo os sensacionalistas conservadores; em resposta, a imprensa começa imediatamente a atacar os Provos, fornecendo a primeira e necessária publicidade à causa anticasamento de nossos heróis. Para consolidar a rixa, na ocasião do desfile de lancha de Beatriz e Claus pelos canais de Amsterdam, alguns Provos lançam cópias da terceira edição da revista, sobre o casal.
Com os ânimos libertários em ebulição, ainda lançaram o Plano das Mulheres Brancas de liberdade sexual (já pedindo a venda de camisinhas a preços baixos), que poucos anos depois seria a tônica do movimento feminista e de direito dos homossexuais; fizeram manifestações anticolonialistas, condenando a política repressiva contra os indonésios que lutavam pela independência, e de direitos humanos contra as ditaduras de Franco (Espanha) e Salazar (Portugal); constituíram pequenas comunidades alternativas rurais; e puxaram os protestos contra a guerra do Vietnã, criando um escarcéu delirante diante da embaixada americana local. Ainda sobrava energia para esportes menos engajados, como pintar a casa do prefeito de branco ou suspender uma discussão sobre o casamento da princesa Beatriz no Parlamento de Haia usando uma sirene de bombeiro.
As apreensões das revistas Provo ofereceram grande publicidade para a publicação, que passou das iniciais 500 cópias para as 20 mil cópias da derradeira edição. Na esteira desse crescente sucesso, 1965 foi o ano da explosão da imprensa underground holandesa, pasquins pipocando por todo país. Tinham concepção gráfica inovadora e inspiraram publicações por todo o globo, como a londrina It, que por ser em inglês se tornaria referência internacional do gênero. Em 64, Grootveld, visionário, disse que "os jornais se tornarão cada vez mais conformistas, cada vez mais corruptos, cada vez mais dependentes dos sindicatos da droga e da nojenta classe média (...) Vai se desenvolver um sentimento de dúvida em relação aos meios de comunicação. O resultado será o florescimento de uma imprensa descentralizada, talvez até mesmo ilegal (...) No futuro, cada um terá seu pequeno jornal. Porque não podemos esquecer que temos uma revolução ao alcance das mãos". A internet, com seus sites independentes e blogs, está aí para confirmar.
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Provos (pt. 3)
Com a popularidade nas estrelas, o provotariado pensa em lançar dois candidatos para as vindouras eleições da Câmara dos Vereadores de 1 o de junho de 66. Instala-se uma discussão animada no grupo, uns achando que a idéia fere o princípio anarquista, outros pensando que os rebaixaria do eletrizante status de movimento de rua à indigna força política institucional. No entanto, movidos pela possibilidade de fiscalizar os políticos de perto e descansar da polícia, lançam 13 candidaturas, cobrindo Amsterdam com espetacular propaganda política: colagens enormes, sutiãs pintados, decoração natalina, esculturas com cores fluorescentes, pincéis colados em muros - todos com o número da chapa, 12. Os slogans variavam de "Vote Provo para ter tempo bom!" a "Vote Provo e darão boas gargalhadas!"; os comícios aconteciam na praça Spui; os programas de governo incluíam os Planos Brancos (bicicletas, mulheres, galinha, etc). Conseguiram inacreditáveis 13 mil votos (2,5%) e amealharam uma cadeira, que foi ocupada em regime de rodízio por cinco diferentes Provos ao longo dos cinco anos de mandato. O primeiro deles, De Vries, vai à Câmara descalço e arrota cada vez que inicia um discurso para os colegas. "É a prova viva de que os Provos não estão interessados no poder, não o querem e não sabem o que fazer com ele", diz o autor do livro.
A saga Provo ainda atraiu os rançosos estudantes situacionistas franceses, que pretendiam analisá-los; dá matérias históricas nos principais jornais psicodélicos americanos, dando uma lavada em seus leitores ao insinuar que os hippies pouco sabem sobre contracultura; e começam a ver a si próprios se tornarem pop: uma agência de turismo inclui uma visita à Spui na agenda de passeios e o órgão estatal para turismo organiza, numa cidade próxima a Amsterdam, falsos happenings, com encenações envolvendo falsos Provos e falsos policiais, tudo muito à la Disneyworld.
http://www.mood.com.br/5a04/provos.asp
Imagens:
Internationaal Instituut voor Sociale Geschiedenis
segunda-feira, novembro 12, 2007
De Haas van Utrecht
Depois de ter voltado para casa, eu comecei a pesquisa. Eu não percebi que a figura sentada em uma grande pedra era uma lebre e comecei a procurar no dicionário de neerlandês a palavra coelho (konijn).
Foto encontrada na internet
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