Estrelato exigiu desintegração
As semanas que se antecipavam ao casamento da princesa Beatriz com Claus desencadearam uma verdadeira paranóia acerca do que os Provos estariam planejando para a ocasião. Os rumores variavam de homens-rãs treinando para despontar pelos canais durante o cortejo real, gravações com estampidos de armas e estouros de bombas para levar a polícia a responder com fogo, até o despejo de LSD no aqueduto da cidade, para fazer a população viajar durante a cerimônia. Equipes de químicos analisam diariamente a água, a polícia invade a casa do provotariado, grampeiam telefones. De nada adianta. Em 10 de março de 66, dia do casório, Amsterdam está em estado de sítio, acessos bloqueados, hospitais em prontidão, helicópteros rodopiando, os noivos com colete à prova de balas por baixo da indumentária nupcial. Os Provos declararam o "dia na anarquia" e começaram lançando cerca de duzentas bombas de fumaça nas salas de imprensa internacionais e pelas ruas. O caos tomou conta da cidade, a multidão ensandecida corria dos policiais a cavalo, que os espancava até que perdessem os sentidos. Os choques começaram de manhã e duraram até alta madrugada. De dentro da igreja ouvia-se o coro gritando "República". Um Provo conseguiu deter a carruagem real atirando uma galinha branca nas pernas dos cavalos que a puxavam, e foi jogado dentro do canal por um grupo de monarquistas.
"Quem dos três é o maior democrata?" Questiona o cartaz número 3 do Provos. Críticas a Claus von Amsberg (no centro), que foi um ex-líder da juventude hitlerista, Carlos Hugo (esquerda), admirador de Franco e Príncipe Bernhard (direita), ex-líder da Reiter-SS.
O resultado publicitário alcançado pelos Provos foi o melhor possível, no dia seguinte todos os principais jornais do planeta noticiavam a esbórnia - a maioria, evidentemente, chamando-os de "indígenas", uma "subespécie humana". Em contrapartida, legiões de cabeludos de todos os continentes começam a invadir Amsterdam. Nove dias depois do casamento, é aberta a exposição fotográfica "10-3-66", com imagens da recente brutalidade da polícia. Os Provos aproveitam para lançar o Plano das Galinhas Brancas, onde divulgam o zombeteiro programa "Amigos da Polícia", exigindo, entre outras cretinices, seu desarmamento. Instantes mais tarde os homens da lei juntam-se ao evento, reproduzindo a performance do dia 10 de março. A televisão transmite o pandemônio.
Cartaz convocando uma manifestação contra as ações violentas da polícia holandesa.
Com a popularidade nas estrelas, o provotariado pensa em lançar dois candidatos para as vindouras eleições da Câmara dos Vereadores de 1 o de junho de 66. Instala-se uma discussão animada no grupo, uns achando que a idéia fere o princípio anarquista, outros pensando que os rebaixaria do eletrizante status de movimento de rua à indigna força política institucional. No entanto, movidos pela possibilidade de fiscalizar os políticos de perto e descansar da polícia, lançam 13 candidaturas, cobrindo Amsterdam com espetacular propaganda política: colagens enormes, sutiãs pintados, decoração natalina, esculturas com cores fluorescentes, pincéis colados em muros - todos com o número da chapa, 12. Os slogans variavam de "Vote Provo para ter tempo bom!" a "Vote Provo e darão boas gargalhadas!"; os comícios aconteciam na praça Spui; os programas de governo incluíam os Planos Brancos (bicicletas, mulheres, galinha, etc). Conseguiram inacreditáveis 13 mil votos (2,5%) e amealharam uma cadeira, que foi ocupada em regime de rodízio por cinco diferentes Provos ao longo dos cinco anos de mandato. O primeiro deles, De Vries, vai à Câmara descalço e arrota cada vez que inicia um discurso para os colegas. "É a prova viva de que os Provos não estão interessados no poder, não o querem e não sabem o que fazer com ele", diz o autor do livro.
A saga Provo ainda atraiu os rançosos estudantes situacionistas franceses, que pretendiam analisá-los; dá matérias históricas nos principais jornais psicodélicos americanos, dando uma lavada em seus leitores ao insinuar que os hippies pouco sabem sobre contracultura; e começam a ver a si próprios se tornarem pop: uma agência de turismo inclui uma visita à Spui na agenda de passeios e o órgão estatal para turismo organiza, numa cidade próxima a Amsterdam, falsos happenings, com encenações envolvendo falsos Provos e falsos policiais, tudo muito à la Disneyworld.
Para não se tornarem caricaturas de si próprios, já que são plenamente conscientes de que estão atuando na sociedade do espetáculo, em maio de 67 nossos protagonistas decidem baixar as cortinas. Fazem-no através do 15 o número do tablóide e uma festa de despedida no Vondel Park. Afinal, sem o apoio do chefe de polícia e o prefeito de Amsterdam, que foram despedidos por ineficiência, não fazia mais tanto sentido.
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