quinta-feira, maio 15, 2008

A Arte da Rapina

Esta seção será dedicada a uma prática que, decerto, há muito para se discutir, principalmente no que se refere à sua eficácia, do ponto de vista sistemático e do simbólico. Pois, de antemão se verificamos que sistematicamente o ato pode não significar, ou não afetar o “sistema”, a satisfação simbólica por outro lado é inquestionável. Deixe-me dizer logo do que se trata: furto. Mas não qualquer furto, ou o furto a particulares, mas a empresas, quais sejam de informática, de roupas, supermercados, livrarias, papelarias, cds e dvds, farmácias, etc. O intento dessa seção é, não somente discutir o que podemos chamar de ética da arte da rapina, mas, sobretudo, de construir com o tempo um manual do rapinante.

De antemão deixamos às claras a regra número um: o ladrão é sempre solitário. Mesmo que rapine em grupo, deve saber que se caiu, caiu sozinho e absolutamente ninguém tem nada a ver com isso.

Na seção de hoje deixemos de lado o manual, deixemo-lo a título de promessa, e nos preocupemos com aspectos mais teóricos dessa prática tão difundida nos quatro cantos do mundo. É bom que se diga que nos últimos anos a prática tem simplesmente crescido, assombrosamente dizem os jornalistas em um tom ao mesmo tempo pudico, indignado e temeroso, enfim, a mesma ladainha monótona de sempre. Trata-se então, de uma prática pra lá de difundida, e ganha mais adeptos a cada dia. Se não me engano nos últimos dois anos o crescimento do furto em lojas aumentou mais de 20 por cento.

Em verdade, desde que o mundo é mundo e o homem é homem, (antes ainda, pois o homem só é homem de uns tempos pra cá) o espírito da rapina o acompanha; a espreita nas sombras e frestas, atento a qualquer distração, um piscar de olhos que seja, a zombar de qualquer propriedade privada, dos pronomes possessivos e de tudo que é mercado. Vale sempre lembrar a máxima de Proudhon, “Toda propriedade privada é um roubo.” A não ser, é claro, se a escritura for assinada por Deus, que caso tenha como se supõe corriqueiramente criado o mundo, deve também ser seu dono. E, se respondermos que sim, temos que rever os direitos autorais e tudo o mais, pois, em nossa sociedade o criador não é dono de absolutamente nada, senão de míseros direitos e não do produto, logo, Deus teria direitos sobre o uso do solo, mas não seria seu dono. Bem, acho que está bom para começar, rebaixando a todos à condição de usurpador nato.

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