quinta-feira, maio 08, 2008

Marcha da Maconha: I

A data já está marcada: 4 de maio; as capitais dos estados brasileiros participantes também: 10 capitais. Mas a coisa, chamemo-la assim, ainda está bem longe de qualquer lugar tranqüilo e isento de polêmicas. Basta dizer que cinco pessoas foram presas no Rio acusadas de fazerem apologia ao tráfico, suas armas: panfletos e camisas de convocação a Marcha da Massa.

(Antes de prosseguir, algumas explicações, ou melhor, expiações, mea culpa, o texto estava quase pronto, e a idéia inicial era produzir uma série de artigos antes da marcha. Mas, ela passou e como os textos estavam quase prontos, resolvi postar assim mesmo. Enfim, em primeiro lugar o debate não acabou, e em segundo, o tempo e a coerência não estão em jogo neste infame blog. Então, então.)
Mas, tenho de fazer uma confissão (outra) antes de prosseguir, é difícil defender o óbvio. O meu corpo, o uso que faço dele, se cheiro, fumo, bebo ou medito, E DAÍ? Se, participo da maquinaria perversa e atroz que multiplica drogas (mercadorias, logo, lucro) em violência deveria ficar triste, infectado da consciência da classe media? É bom que alguém diga que, apesar da Tropa de Elite, não fui eu a transformar fumaça em tráfico, prazer em culpa. Essa história é muito mais antiga que meu sim ou não, e minha escolha, como sempre, é completamente indiferente.
Principalmente se tratando de uma pratica absolutamente difundida, e não somente nas classes médias. Uma prática que há muito já saiu das trevas suburbanas, e quer se tornar legal, quer sorrir em paz, quer fumar sua coisinha sem o peso do tráfico, sem o risco da prisão, sem ter de encontrar com número cinco ou sete. Enfim, é tão pecaminoso quanto bater uma punheta. Volto a dizer, meu corpo, MEU CORPO! Vocês me deram um corpo, querem que me chame indivíduo; prometem-me liberdades individuais, direitos e deveres, tudo isso baseado num contrato que não assinei, e nunca conheci quem o tivesse assinado. Tudo bem, sociedade, contratos, divisão dos poderes, vamos lá. Mas, e agora o que querem? Que me envergonhe de meus prazeres e de meus hábitos (vícios se assim preferirem)? Não, de forma alguma, note que esse não, é antes de mais um sim, nunca se nega absolutamente algo. Como se já não bastasse todo cristianismo que impregna nossos espíritos, todo o rebaixamento da vida e do prazer, toda a pervertida castidade, o não absoluto em nome do nada, EM NOME DE NADA!
Encerrando a infâmia nossa de cada dia, um pouco de Artaud:
“Nascemos podres de corpo e alma, somos congenitamente inadaptados; suprimam o ópio não suprimirão a necessidade do crime, os cânceres do corpo e da alma, a inclinação para o desespero, o cretinismo inato, a sífilis hereditária, a fragilidade dos instintos; não impedirão que haja almas destinadas a seja qual for o veneno, veneno da morfina, veneno da leitura, veneno do isolamento, veneno do onanismo, veneno dos coitos repetidos, veneno da arraigada fraqueza da alma, veneno do álcool, veneno do tabaco, veneno da anti-sociabilidade. Há almas incuráveis e perdidas para o restante da sociedade. Suprimam-lhes um dos meios para chegar à loucura: inventarão dez mil outros. Criarão meios mais sutis, mais selvagens; meios absolutamente desesperados.”

P.S: Qual a garantia que tenho como bom-cidadão-politacamente-correto que o dinheiro pago em impostos não vá para o financiamento do tráfico e da violência?

3 comentários:

  1. Ei galera, socorro, alguém consegue aumentar o espaçamento entre linhas, prq ficou muito apertado...

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  2. Hahaha ficou melhor? Ótimo texto... me lembra daquele debate que rolou no CFCH... mas imagino que você não lembra haha

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  3. "É uma decadência. O estado combate o tráfico e permite uma passeata dessas" Cabo Amós, responsável pela guarnição que acompanhou a marcha (Diário de Pernambuco, 06 de maio de 2008)

    "Maconha é remédio, bio-diesel, agricultura familiar, fibra têxtil, liberdade de expressão, cultura" Cartaz na marcha.


    Aléééém da questão do uso livre de entorpecente em nome da liberdade CONSTITUCIONAL (88) de livre disposição do seu corpo; a cannabis tem uma das mais aproveitáveis fibras do mundo. Aliás, a globalização teria sido inviável sem a maconha e os velames e cordas de cânhamo das Grandes Navegações.
    As pessoas mal sabem que um lobby da indústria algodoeira norte-americana - associando a cannabis à inferior e desprezível cultura afro-americana - criou toda a celeuma em torno da parada.
    A porra da planta brota em qualquer canto, é super aproveitável, ou seja, tudo o que o sistema abomina, assim como água oxigenada, energia solar, energia de célula de hidrogêncio etc etc - caralho, seria lindo biodiesel de maconha... a fumaça da cidade seria bem mais agradável, e os níveis de stresse cairiam drásticamente! hahahahahah

    Mas o buraco do tráfico é beeeeeeemm mais embaixo...
    Afinal, os bio combustíveis estão substituindo a produção alimentícia... imaginem só, todo mundo ia ficar fumando maconha e ia esquecer de comer (finge que ninguém sabe que estimula o apetite... ou LARICA).

    hã?

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