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terça-feira, dezembro 04, 2007
Super-malvados, ativar
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quarta-feira, novembro 28, 2007
instalar um sistema de medição e controle de abalos sísmicos, que cobre
todo o país. O então recém-criado Centro Sísmico Nacional, poucos dias após entrar em funcionamento, já
detectou que haveria um grande terremoto no Nordeste do país. Assim, enviou um telegrama à delegacia de
polícia de Icó, uma cidadezinha no interior do Estado do Ceará. Dizia a mensagem:
"Urgente. Possível movimento sísmico na zona. Muito perigoso. Richter 7.
Epicentro a 3 km da cidade. Tomem medidas e informem resultados com
urgência."
Somente uma semana depois, o Centro Sísmico recebeu um telegrama que dizia:
"Aqui é da Polícia de Icó. Movimento sísmico totalmente desarticulado.
Richter tentou se evadir, mas foi abatido a tiros. Desativamos as zonas.
Todas as putas estão presas. Epicentro, Epifânio, Epicleison e os outros cinco irmãos estão detidos. Não
respondemos antes porque houve um terremoto da porra aqui e fudeu tudo......."
Provos (pt. 1)
Como bons anarquistas que eram, os Provos (corruptela do termo "provokatie", ou "provocação") não chegaram a caracterizar um movimento organizado, menos ainda uma ideologia. A intenção desses jovens tresloucados do início dos anos 60 era debochar o mais cinicamente das tradições monárquicas holandesas da Casa Real de Orange e sua protegé , a burguesia consumista - o que, como veremos, conseguiram fazer com o máximo de diversão e ousadia. Ao contrário de seus irmãos caçulas, os românticos hippies, não desejavam mudar o mundo: " Não podemos convencer as massas, e talvez sequer nos interesse fazer isso. O que podemos esperar deste bando de apáticas, indolentes, tolas baratas? É mais fácil o sol surgir no oeste do que eclodir uma revolução nos Países Baixos (...) O homem médio é um comedor de repolhos, improdutivo, não-criativo, emotivo. Alguém que se diverte fazendo fila nos guichês", dizia a primeira de uma incendiária série de edições de revistas "Provo". E ainda: "Provo tem consciência de que no final perderá, mas não pode deixar escapar a ocasião de cumprir ao menos uma qüinquagésima e sincera tentativa de provocar a sociedade".
Os happenings
E assim começaram em 1962, através de um formato que seria permanentemente adotado para zombar do status quo até o fim da galhofa, em 1967: o happening, evento efêmero que mistura arte e performance em locais públicos, criado em 1959 em Nova Iorque e imediatamente assimilado pelos artistas de vanguarda do mundo. Os heterogêneos Provos não eram exatamente artistas, mas tomaram o modelo emprestado e o executaram a sua maneira extravagante, a princípio com o único objetivo de espantar o tédio das conformidades. Happenings bizarros começam a espocar em Amsterdam: um sujeito escancara as portas e janelas de sua casa no auge do inverno, abre as torneiras, deixa a água congelar no chão e chama uma patinadora para exibir-se para os transeuntes curiosos; outro amassa papéis, com os quais recobre seu quarto, a calçada e os carros estacionados, gravando o ruído do amassado para posterior exibição em concertos nesta especialidade; dois times de ciclistas despem-se enquanto pedalam, até chocarem-se nus uns contra os outros. No entanto o caso mais assombroso foi o de Bart Huges, um estudante de medicina que em 1958 havia servido de cobaia nos experimentos com LSD na Universidade de Amsterdam. Huges realizou trepanação na própria caixa craniana (quer dizer, fez um furo no meio da testa com uma broca de dentista) e retirou o curativo para uma platéia ao som de tambores. Ele acreditava que seu "terceiro olho permanentemente aberto" lhe expandiria a consciência para sempre - e, é claro, aproveitou a oportunidade para chocar a massa incrédula.
Os caras eram do barulho, mas se até hoje você jamais havia escutado falar deles, a culpa não é sua. Matteo Guarnaccia explica que, além do simples fato do bando de doidos Provos estar circunscrito à Holanda, alardeando suas causas válidas e idéias cretinas através dos tablóides escritos em holandês, a ele "faltou também aquele megafone fundamental representado pela música pop. Se no mundo anglo-saxão o movimento pacifista e alternativo pôde contar com grupos ou cantores de música folk para amplificar e difundir sua mensagem, nada parecido aconteceu na Holanda, do ponto de vista musical". As excursões Provo para fora da Holanda foram poucas e breves. Passaram pelo Marrocos, Ibiza, ilhas gregas (antecipando-se em pelo menos quatro anos às badaladas migrações hippies) e estabeleceram-se por algum tempo em Londres, tornando-se ícones da casta de artistas psicodélicos. Foi quando desenharam os figurinos de Sgt Pepper´s, e a Provo Marijeke Koger tornou-se a grande estilista dos malucos ingleses, aproveitando para executar um happening onde fez a dança dos sete véus inteiramente nua, pintada com cores fluorescentes.
Cigarros, só Marihu
Foi em 62, com Robert Jasper Grootveld, que a saga começa a tomar um formato mais ou menos definido. Grootveld, um fumante inveterado, decide começar uma hilariante campanha antifumo por Amsterdam, por onde anda totalmente fantasiado de feiticeiro africano, pintando a palavra "câncer" sobre todos os cartazes publicitários de cigarros das ruas. Foi preso algumas vezes, chegando, gratuitamente, às mesmas páginas de jornais que as corporações de tabaco pagam milhões para anunciar. Uma vez solto, usou um casebre velho numa região boêmia para realizar rituais antifumo que atraíam cada vez mais pessoas; mais tarde, transferiria os eventos para a praça Spui que, além de exibir uma estátua presenteada pela Hunter Tobacco Company para a cidade, ficava estrategicamente próxima à maioria das redações dos jornais
Em 64, no clímax de seus protestos, já considerado um herói na cidade, Grootveld junta-se a Bart Huges para lançar o Marihu Project, um plano para reivindicar a legalização da maconha (afinal consideravam o cigarro uma "droga legalizada") e tirar um sarro da polícia. Espalharam por Amsterdam centenas de maços pintados à mão com desenhos fluorescentes, contendo baseados feitos com folhas secas catadas dos parques, algas, palha, pedaços de cortiça e também, naturalmente, a boa e velha cannabis. Concomitantemente, fazem circular cartas com as regras do jogo: "Cada um pode fabricar sua Marihu (...) Cada qual pode criar suas próprias regras, ou omiti-las". O happening é um sucesso retumbante, em pouco tempo as centrais telefônicas da polícia estavam congestionadas com chamadas anônimas de cidadãos denunciando os próprios vizinhos como usuários de maconha, a maioria delas feitas pelos próprios Provos para causar confusão. Os homens da lei são obrigados a um ritmo de trabalho estressante, chegando a declarar para a imprensa que a situação começava a se tornar "problemática". Grootveld observa, muito apropriadamente: "Para dar caça a alguns consumidores de erva, uns agentes, notórios consumidores de nicotina, efetuam incursões-surpresa, que depois são propagandeadas na imprensa, mediante artigos escritos por jornalistas amiúde alcoolizados e lidos por um público que, por sua vez, é escravo da televisão ou da nicotina. Quem tem direito de dizer ao outro que não deve consumir uma determinada substância?"
Imagens:
Internationaal Instituut voor Sociale Geschiedenis
Provos (pt. 2)
Em 65, reuniões na Spur à toda, a própria família real holandesa dá a deixa para a institucionalização da zorra Provo. A princesa Beatriz decide casar-se com Claus von Amsberg, um diplomata alemão que servira nas fileiras do exército nazista. Sofisticadas manobras políticas foram executadas, nos bastidores, pela Casa Real de Orange para reverter a péssima repercussão inicial que o noivado conseguiu junto à população e à imprensa. Quando o mal-estar parecia contornado, chega às ruas a terceira edição do tablóide Provo, atacando o futuro príncipe por todos os lados. O provotariado os esconde dentro dos jornais matutinos, sobretudo os sensacionalistas conservadores; em resposta, a imprensa começa imediatamente a atacar os Provos, fornecendo a primeira e necessária publicidade à causa anticasamento de nossos heróis. Para consolidar a rixa, na ocasião do desfile de lancha de Beatriz e Claus pelos canais de Amsterdam, alguns Provos lançam cópias da terceira edição da revista, sobre o casal.
Com os ânimos libertários em ebulição, ainda lançaram o Plano das Mulheres Brancas de liberdade sexual (já pedindo a venda de camisinhas a preços baixos), que poucos anos depois seria a tônica do movimento feminista e de direito dos homossexuais; fizeram manifestações anticolonialistas, condenando a política repressiva contra os indonésios que lutavam pela independência, e de direitos humanos contra as ditaduras de Franco (Espanha) e Salazar (Portugal); constituíram pequenas comunidades alternativas rurais; e puxaram os protestos contra a guerra do Vietnã, criando um escarcéu delirante diante da embaixada americana local. Ainda sobrava energia para esportes menos engajados, como pintar a casa do prefeito de branco ou suspender uma discussão sobre o casamento da princesa Beatriz no Parlamento de Haia usando uma sirene de bombeiro.
As apreensões das revistas Provo ofereceram grande publicidade para a publicação, que passou das iniciais 500 cópias para as 20 mil cópias da derradeira edição. Na esteira desse crescente sucesso, 1965 foi o ano da explosão da imprensa underground holandesa, pasquins pipocando por todo país. Tinham concepção gráfica inovadora e inspiraram publicações por todo o globo, como a londrina It, que por ser em inglês se tornaria referência internacional do gênero. Em 64, Grootveld, visionário, disse que "os jornais se tornarão cada vez mais conformistas, cada vez mais corruptos, cada vez mais dependentes dos sindicatos da droga e da nojenta classe média (...) Vai se desenvolver um sentimento de dúvida em relação aos meios de comunicação. O resultado será o florescimento de uma imprensa descentralizada, talvez até mesmo ilegal (...) No futuro, cada um terá seu pequeno jornal. Porque não podemos esquecer que temos uma revolução ao alcance das mãos". A internet, com seus sites independentes e blogs, está aí para confirmar.
Imagens:
Provos (pt. 3)
Com a popularidade nas estrelas, o provotariado pensa em lançar dois candidatos para as vindouras eleições da Câmara dos Vereadores de 1 o de junho de 66. Instala-se uma discussão animada no grupo, uns achando que a idéia fere o princípio anarquista, outros pensando que os rebaixaria do eletrizante status de movimento de rua à indigna força política institucional. No entanto, movidos pela possibilidade de fiscalizar os políticos de perto e descansar da polícia, lançam 13 candidaturas, cobrindo Amsterdam com espetacular propaganda política: colagens enormes, sutiãs pintados, decoração natalina, esculturas com cores fluorescentes, pincéis colados em muros - todos com o número da chapa, 12. Os slogans variavam de "Vote Provo para ter tempo bom!" a "Vote Provo e darão boas gargalhadas!"; os comícios aconteciam na praça Spui; os programas de governo incluíam os Planos Brancos (bicicletas, mulheres, galinha, etc). Conseguiram inacreditáveis 13 mil votos (2,5%) e amealharam uma cadeira, que foi ocupada em regime de rodízio por cinco diferentes Provos ao longo dos cinco anos de mandato. O primeiro deles, De Vries, vai à Câmara descalço e arrota cada vez que inicia um discurso para os colegas. "É a prova viva de que os Provos não estão interessados no poder, não o querem e não sabem o que fazer com ele", diz o autor do livro.
A saga Provo ainda atraiu os rançosos estudantes situacionistas franceses, que pretendiam analisá-los; dá matérias históricas nos principais jornais psicodélicos americanos, dando uma lavada em seus leitores ao insinuar que os hippies pouco sabem sobre contracultura; e começam a ver a si próprios se tornarem pop: uma agência de turismo inclui uma visita à Spui na agenda de passeios e o órgão estatal para turismo organiza, numa cidade próxima a Amsterdam, falsos happenings, com encenações envolvendo falsos Provos e falsos policiais, tudo muito à la Disneyworld.
http://www.mood.com.br/5a04/provos.asp
Imagens:
Internationaal Instituut voor Sociale Geschiedenis
segunda-feira, novembro 12, 2007
De Haas van Utrecht
Depois de ter voltado para casa, eu comecei a pesquisa. Eu não percebi que a figura sentada em uma grande pedra era uma lebre e comecei a procurar no dicionário de neerlandês a palavra coelho (konijn).
Foto encontrada na internet
Detalhe
quarta-feira, outubro 31, 2007
Tropa de Elite: A criminalização da Pobreza.
"Homem de preto.
Qual é sua missão?
É invadir favela
E deixar corpo no chão"
(refrão do BOPE)
Não dá cair no papo furado de que "Tropa de Elite" é "arte pura" ou "obra aberta". Um filme sobre questões sociais não podia ser neutro. Trata-se de uma obra de arte objetivamente ideológica, de caráter fascista, que serve à criminalização e ao extermínio da pobreza. É possível até que os diretores subjetivamente não quisessem este resultado, mas apenas ganhar dinheiro, prestígio e, quem sabe, um Oscar. Vão jurar o resto da vida que não são de direita. Aliás, você conhece alguém no Brasil, ainda mais na área cultural, que se diga de direita?
Osso duro de roer,
Pega um, pega geral.
Também vai pegar você!"
terça-feira, outubro 30, 2007
Comer Brigadeiro, pode. Coronel , não pode
Dono de lanchonete é preso por batizar sanduíches como patentes militares.
Para o dono de uma lanchonete de Penedo, a 170 km de Maceió (AL) tratava-se de uma estratégia de marketing. Para o comandante da Polícia Militar na cidade, era uma ofensa à corporação. E assim, por batizar os sanduíches da casa com patentes militares, Alberto Lira, 38 de idade, dono da lanchonete Mister Burg, acabou detido por ordem do comandante da PM local.
Afinal, entendeu o militar, não ficaria bem alguém chegar na lanchonete e pedir: "quero um coronel mal passado". Ou sair de lá dizendo: "acabei de comer um sargento". Na delegacia foi lavrado boletim de ocorrência e, face ao tumulto havido, a casa comercial fechou durante algumas horas. Como o delegado de plantão entendeu que não havia motivo para prisão, Lira foi liberado horas mais tarde. Os cardápios da lanchonete foram recolhidos para avaliação e a casa reaberta em seguida. Aproveitando-se da inesperada repercussão, a lanchonete quer manter o cardápio que desagrada a PM.
A casa oferece lanches como o "coronel" (que é o filé com presunto) e o "comandante" (um prato com calabresa frita) etc. A brincadeira foi demais para o parco humor da Polícia Militar que diz que os nomes dos pratos provocavam chacotas e insinuações contra os policiais entre os moradores da cidade de 60 mil habitantes. Lira, o dono da lanchonete, diz que não teve nem tem nenhuma intenção de brincar ou ofender a corporação. O cardápio - garante o dono da lanchonete - pretendia ser uma homenagem à hierarquia militar. O prato mais caro era o "comandante".
O comerciante contratou ontem (15) o advogado Francisco Guerra, para entrar com uma denúncia por abuso de autoridade contra o comandante local da PM e uma ação reparatória por dano moral contra o Estado de Alagoas. Nela vai salientar que não existe nenhum texto legal que impeça um restaurante de incluir, no seu cardápio, "lula à milanesa", "filé a cavalo" ou "coronel mal passado" etc. O advogado já pediu habeas corpus preventivo para evitar outra detenção de seu cliente. A peça sustenta que "se o argumento do comandante fosse válido, nenhuma festa de criança poderia ter brigadeiro".
Como se sabe, brigadeiro - além de ser a mais alta patente da Aeronáutica - é também o nome do docinho obrigatório em aniversário de crianças. "Em Penedo, comer brigadeiro pode, mas comer coronel, está proibido" - ironizam os advogados da cidade.
sábado, outubro 27, 2007
segunda-feira, outubro 22, 2007
Manual prático de levitação
sexta-feira, outubro 19, 2007
Um dia quiseram ver quem era o melhor: Macgyver, Jack Bauer, ou Capitão Nascimento.
Macgyver pegou uma moeda de 5 centavos no chão, um graveto e uma pedra e entrou na floresta. Demorou 2 dias pra construir um detector de coelhos em floresta e voltou no 3o dia com o coelho.
Dai chegaram pro Jack Bauer e falaram a mesma coisa. Ele entroucorrendo na floresta e 24 horas depois apareceu com o coelho. Pediu desculpas porque teve que desarmar 5 bombas nucleares, recuperar 15 armas químicas, escapar de um navio cargueiro que ia pra China e matar 100 terroristas pra chegar até o coelho.
Dai pediram para o Cap. Nascimento ir buscar o coelho. Se ele demorasse menos de 24 horas ele seria o melhor. No que ele respondeu:
- Tá de sacanagem comigo 05? Cê tá de sacanagem comigo??? Você acha que eu tenho um dia inteiro pra perder com essa porra de brincadeira 05 ? Tu é mo-le-que! MO-LE-QUE 05!!! Virou-se calmamente para a floresta e gritou:
- Pede pra sair!!! Pede pra sair cambada!!!
Em menos de 5 segundos já tinham saído da floresta 300 coelhos, 20 jaguatiricas, 50 jacarés, 1000 paca-tatu-cotia-nao, o Shrek e o monstro fumaça do Lost.
Daí ele gritou:
- 02, tem gente com medinho de sair da floresta, 02!
- 07, traz a 12!
...nisso o Bin Laden saiu da floresta correndo!!!
segunda-feira, outubro 15, 2007
A tragédia dos professores enlouquecidos
Por Gilberto Dimenstein - Folha de S. Paulo
Depois de pegar um de seus estudantes mais indisciplinados e agressivos pela gola e rasgar sua camisa, Sirley Fernandes da Silva, professora de uma escola estadual na periferia de São Paulo, pediu licença médica e resolveu procurar um psiquiatra -já não sabia lidar com tanto desrespeito em sala de aula. “O aluno era terrível, mas depois fiquei com pena dele. Quando chamamos os pais e percebemos como são ausentes da vida dos filhos, vemos que o garoto também é uma vítima. O aluno fica em casa abandonado e, muitas vezes, vai para a escola só para comer.”
Depois de um ano de terapia, Sirley não abandonou o magistério, apenas trocou de série. Passou a dar aulas no ensino médio, onde, segundo ela, havia uma “vantagem”: “Os alunos do ensino médio podem ser mais agressivos verbalmente, mas os do fundamental partem para a agressão física”.
Difícil saber o que é mais dramático: a professora descontrolada pedindo socorro ao psiquiatra ou a “vantagem” que ela encontrou ao dar aulas para estudantes mais velhos e apenas ser xingada.
O caso de Sirley faz parte de uma tragédia conhecida quase exclusivamente por especialistas: a epidemia de distúrbios mentais dos professores brasileiros, provocados, entre outros motivos, pela violência e pelas condições de trabalho ruins. Diante desse massacre psicológico, um minuto de silêncio seria uma forma apropriada de comemorar, amanhã, o Dia do Professor.
O cansaço psicológico de Sirley ajuda a explicar uma informação divulgada pela Folha na sexta-feira sobre o desempenho escolar em uma das regiões mais ricas do país. Segundo testes aplicados pelo governo estadual, 37% dos estudantes que concluem o ensino fundamental são totalmente analfabetos. Nada menos do que 72% das escolas nessa região estão em “estado de atenção”, devido ao baixo aprendizado. Entende-se como as crianças se tornam adultos incapazes de compreender um texto simples.
O problema dos salários não é o maior dos males -o maior de todos são as condições de trabalho. Uma pesquisa realizada neste ano pela Apeoesp (sindicato dos professores estaduais) levantou, pela ordem, os seguintes problemas: superlotação em sala (73%), falta de material didático (67%), dificuldade de aprendizagem dos alunos (65%), jornada excessiva (64%), violência nas escolas (62%).
De acordo com essa pesquisa, 80% dos professores apresentam o cansaço como um sintoma freqüente, 61% sofrem de nervosismo, 54% padecem com dores de cabeça e 57% têm problemas com a voz. Cerca de 46% deles tiveram diagnóstico confirmado de estresse.
Devemos examinar esse dados com certa atenção porque, primeiro, vêm de um sindicato, que tende a exagerar seus dramas para exigir benefícios à categoria, e, segundo, porque existe uma indústria da licença médica, vista quase como um direito adquirido para compensar tantas adversidades.
Mas quem freqüenta escolas públicas, especialmente na periferia, sabe que, de fato, o professor é massacrado diariamente -assim como seus alunos são massacrados, vítimas de uma série de mazelas que acabam afetando seu aprendizado. O professor é obrigado a lidar com o aluno que não ouve direito porque não sabe limpar direito o ouvido, que sofre de dislexia nem ao menos diagnosticada ou que é vítima da violência ou do descaso doméstico.
O massacre é crônico, de tal forma que, dificilmente, se conseguiria atrair talentos para as escolas públicas -especialmente, para quem mais precisaria desses talentos, que são os mais pobres. Não atraindo, cria-se um círculo vicioso da miséria educacional. O que se nota, além de um absenteísmo enorme, com ou sem justificativa, é uma rotatividade incessante de professores e de diretores.
Pense numa das empresas mais sólidas do Brasil e imagine que os funcionários se comportem como se estivessem numa escola pública -estressados, desmotivados, nem punidos por seus erros, nem premiados por seus acertos. E tudo isso apoiado num forte corporativismo. E, em muitos casos, como mostrou a Folha na semana passada, com cargos de direção escolhidos por políticos. Em quanto tempo essa empresa quebraria?
Oferecer melhores salários certamente ajudaria, a longo prazo, a atrair talentos. Mas, a curto prazo, nesse massacre a que estão submetidos os professores, duvido que funcione. Faz mais sentido oferecer prêmios a escolas que demonstrem mais esforço e ir, aos poucos, criando exemplos, enquanto se melhoram as condições de trabalho, os currículos e os cursos de formação dos docentes.
Nessa briga, não há mocinhos nem bandidos. É, na verdade, um choque de vítimas, visível quando uma professora, desesperada, agride um garoto que passou a vida sendo agredido.
O que dá para dizer, com certeza, é que não se constrói uma nação civilizada com professores enlouquecidos.
Coluna originalmente publicada na Folha de S.Paulo (15/10/2007), editoria Cotidiano.
http://tribunapopular.wordpress.com/2007/10/15/a-tragedia-dos-professores-enlouquecidos/
domingo, outubro 14, 2007
O ensino vai à Bolsa
No saguão da Bolsa de Valores de São Paulo, o professor Antonio Carbonari estica o terno, posa para um fotógrafo e faz planos de estampar, ao lado de marcas consagradas no pregão, o nome da Anhanguera Educacional. “Estamos no verde, significa que subimos. Fantástico”, diz o empresário, recém-chegado ao mercado financeiro, embasbacado com o sobe-e-desce das ações.
Carbonari está encantado e tem suas razões. Seis meses após a abertura de capital, a Anhanguera havia captado 512 milhões de reais, resultado excepcional para uma empresa tão nova na Bolsa. Outros dois grupos educacionais seguiram o mesmo caminho.
O Kroton, da rede Pitágoras, que tem entre os sócios o ministro Walfrido dos Mares Guia, conseguiu 479 milhões de reais. A Estácio Participações, controladora da Universidade Estácio de Sá, do Rio de Janeiro, embolsou 447 milhões. O COC, do interior paulista, está em negociação com os investidores.
Outras tantas escolas estão ávidas por participar da bonança financeira que o ensino superior atravessa, nova aposta dos investidores brasileiros e estrangeiros. “Vejo o mercado de educação como um supermercado. Estou vendendo um produto. Só que, em vez de vender tomate, meu produto é um assento para o aluno estudar”, compara o economista Marcelo Cordeiro, da Fidúcia Asset Management, especializado em buscar investimentos para o setor.
O efeito dessa onda de dinheiro novo nas faculdades, por meio da Bolsa de Valores, deve ser a concentração de mercado. Anhanguera, Kroton e Estácio já figuram entre os maiores grupos brasileiros. Só a Estácio tem 185 mil alunos. Quanto mais aplicadores atrair, mais as faculdades e universidades terão de apresentar resultados financeiros satisfatórios.
Em geral, a forma mais fácil de crescer é adquirir ou se fundir a um concorrente. Resultado: a abertura de capital vai levar necessariamente à consolidação dos gigantes do ensino. “A concentração é um caminho sem volta. Já aconteceu nos Estados Unidos e vai acontecer aqui. Quem ficar de fora está morto”, prevê Cordeiro.
Os limites da mercantilização estão, para o secretário de ensino superior do Ministério da Educação (MEC), Ronaldo Mota, na preservação da qualidade do ensino. “O setor privado ocupou o lugar que o público não conseguiu ou não quis ocupar”, admite, ressaltando que, apesar de este novo mercado se mostrar lucrativo, cabe ao governo fazer com que a educação não seja confundida com mercadoria.
“A Constituição diz que o ensino é livre à iniciativa privada, desde que cumpra as regras gerais da Educação Nacional. Temos de avaliar e regulamentar para que isso não se torne uma simples disputa de mercado, o que pode fazer com que a instituição de qualidade sofrível, com valores de mensalidade menores, sacrifique as instituições de mais qualidade. A missão agora não é sufocar o crescimento do sistema privado, mas garantir que ele seja feito com controle de qualidade”, afirma.
Manter o controle sobre o setor privado representa, por causa do tamanho que as instituições particulares alcançaram no Brasil, um desafio de grandes proporções. Há, hoje, no País 2.141 escolas superiores privadas, que reúnem 4,4 milhões de alunos. As públicas somam 257 e têm 1,4 milhão de estudantes.
Para o cientista político Edson Nunes, presidente do Conselho Nacional de Educação (CNE) e Pró-Reitor de Desenvolvimento e Planejamento da Universidade Candido Mendes, o ensino superior expandiu-se exclusivamente ao sabor do mercado.
“O País deliberou, ou vem deliberando, se preferirmos, expandir os cursos superiores por meio do setor privado. Mas não tomou um conjunto de outras medidas necessárias a, de um lado, tirar vantagens dessa deliberação, e, de outro, adequadamente administrar suas premissas e conseqüências”, analisa, no estudo Desafio Estratégico da Política Pública: o Ensino Superior Brasileiro, concluído em julho deste ano.
quinta-feira, setembro 27, 2007
Dói
Malditos desejos; D maldita expectativa. e
U Dóóóóóóóóóiiiii meu cérebro!!
Bendita ressaca...I
QUEM MATOU TAÍS?
O resto já sabemos. O escudeiro transforma-se na figura central da política brasileira durante o primeiro semestre de 2007. Surgem denúncias em cima de denúncias. Mas o cara não cai. Resiste bravamente, de tal forma que começamos a desconfiar que ele tem mais do que inocência.Ele sabe das coisas. Ou melhor, ele sabe de coisas. Sabe tanto que pode ameaçar:
- Se cair, levo um monte junto.
Esse é o risco que corre quem tem escudeiro. O escudeiro conhece as manias do príncipe, as fraquezas do príncipe, as sacanagens do príncipe. E seu conhecimento pode destruir o príncipe. Para livrar-se dele o príncipe tem que mandar matar. Ou aceitar a chantagem.
O que assistimos nos últimos meses talvez seja um dos maiores escândalos de chantagem pública “destepaíz”. Nunca antes um senador teve em suas mãos tanto poder, tanto conhecimento para causar medo.
Veja só:
· Provoca o afastamento de Fernando Collor, que se licencia de seu mandato reconquistado depois de cumprir a pena pelo impeachment. Collor não pode votar contra seu ex-escudeiro.
· Provoca a saída do país do Presidente Lula, que faz teatro do outro lado do mundo.
· Destrói a carreira de Aloísio Mercadante, que mais uma vez tenta explicar o inexplicável, justificar o injustificável.
· Expõe a cara-de-pau de um Romero Jucá, de um Epitáfio Cafeteira.
· Deixa explícito que a mídia pode muito, mas não pode tudo.
· Mancha definitivamente a imagem do Senado.
É poder demais para um senador só, o que nos leva a perguntar: o que é que Renan sabe?
Eu posso imaginar.
Sabe de outros senadores e deputados que usam dos mesmos expedientes que ele usou para benefício próprio.
Sabe tudinho do mensalão.
Sabe das negociatas para compra de votos, para mudança de legenda, para proteção de empresas devedoras frente ao fisco.
Sabe das doações de bancos e grandes empresas.
Sabe de concessões de rádio e televisão.
Sabe quem come quem.
Sabe dos propinodutos variados (aliás, quando é que uma CPI vai dedicar-se a esmiuçar os contratos da área de informática no governo?).
Deve saber dos acordos envolvendo as Farcs. Chavez. Fidel Castro.
Sabe de muitos outros filhos fora do casamento.
Talvez Renan saiba quem matou Celso Daniel e o Toninho do PT.
Deve saber sobre os bastidores das privatizações.
Conhece alguns – ou muitos – podres envolvendo as grandes estatais.
Sabe do Kia, do Boris e do Corinthians...
Renan tem o poder supremo: informação. Ele manda em quem quiser. Ele dita regras, exige apoio e faz tremer. Renan pode tudo. E sabe que pode. Daí aquela segurança, aquela arrogância, aquele sorrisinho, aquele “abisolutamente”, aquela certeza, aqueles abraços e apertos de mão inexplicáveis. Renan é o cara.
Quer saber? Eu acho que Renan sabe até quem matou a Taís.
E nós, que pensamos que sabemos das coisas e na verdade sabemos de nada?
Vamos seguir a vida, bovinamente resignados e obedecendo ao supremo mandamento do novo Brasil:
– Cale a boca. E compre.
Será que o Renan sabe até quando?
Este artigo é de autoria de Luciano Pires (www.lucianopires.com.br) e está liberado para utilização em qualquer meio, contanto que seja citado o autor e não haja alteração em seu conteúdo
PS: Gostaríamos de acrescentar que o (A)Berração apoia o senador Renan Calheiros. Chega de cultura da miséria; ser bonzinho é o caralho! Eu quero é pa(i)trocínio!!!
segunda-feira, setembro 24, 2007
sexta-feira, setembro 14, 2007
No dia em que Jim Morrison me guiou...
Acho que foi Jim Morrison que me enviou inconscientemente para aquele Coffeeshop. Fiz algo realmente não convencional ao pedir a direção para um chapado na porta de um Coffeeshop. Ao menos deu certo!
sexta-feira, agosto 31, 2007
Maurício de Nassau em Recife
quinta-feira, agosto 30, 2007
segunda-feira, agosto 27, 2007
quinta-feira, agosto 23, 2007
De vez em quando pinta uma coisinha, uma carreirinha ou... um manifesto!
Desde a década de 80 estamos acompanhando, no Brasil, vários avanços significativos no campo do uso de drogas, a partir da adoção gradual da perspectiva da Redução de Danos, seja pelos governos, seja por organizações da sociedade civil, tornando-se inclusive uma política pública oficial no nosso país, regulamentada por decretos, portarias e leis.
A perspectiva da Redução de Danos da qual falamos, está em consonância com princípios fundamentais da promoção da saúde e da cidadania, pautadas em consensos do campo dos Direitos Humanos, especialmente do direito à Saúde, presente na Constituição Federal do Brasil e nos fundamentos e diretrizes do nosso Sistema Único de Saúde – SUS.
A perspectiva da Redução de Danos da qual falamos, tem possibilitado avanços significativos na redução da infecção pelo HIV e hepatites virais; na adoção de estratégias de prevenção, cuidado e auto-cuidado, comprometidas com as pessoas enquanto cidadãs; na possibilidade de tratamento digno e respeitoso, que leve em consideração as pessoas e sua autonomia, também no processo de busca por cuidados à saúde, como tem nos ensinado os processos de reforma sanitária e psiquiátrica.
A perspectiva de Redução de Danos da qual falamos, nos coloca diante do fracasso das concepções e intervenções polarizantes, que simplificam demais a existência humana, evidenciando que a questão não é apenas de ser contra ou a favor das drogas, mas sobretudo é necessário acolher e aceitar as pessoas que usam.
Adotar a Redução de Danos não é incentivar o uso, nem deixar as pessoas usarem - pensávamos que esse era um debate superado. É incentivar o Cuidado, a Saúde e a Cidadania, em suas formas mais poéticas e nas suas formas mais plenas de Direitos.
Como reafirmado em Carta recente da ABORDA – Associação Brasileira de Redutoras e Redutores de Danos, não é admissível o reforço aos "discursos reacionários que consideram à Redução de Danos como uma estratégia duvidosa, e não a política oficial do Estado Brasileiro para o tratamento de questões relacionadas ao uso problemático de álcool e outras drogas, além de suas
inestimáveis contribuições ao combate da epidemia de Aids e hepatites entre pessoas que usam drogas e suas redes sociais".
Os recentes incidentes e questionamentos acerca da legitimidade, efetividade e eficácia da Redução de Danos, acompanhados a partir da proibição dos folhetos na Parada do Orgulho GLBT de São Paulo e na suspensão de apoio da Fapesp ao Projeto Baladaboa, voltados ao consumo de ecstasy, são inadmissíveis e configuram-se como um retrocesso sem igual.
Assinamos esse Manifesto em defesa da Redução de Danos, da saúde e da cidadania das pessoas que usam drogas, das políticas públicas justas e humanizadas que temos no nosso país, da nova lei sobre drogas, dos decretos e leis municipais que regulamentam a Redução de Danos, da Política de Atenção Integral à saúde de usuários de álcool e outras drogas, enfim, de toda nossa história de construção de uma sociedade digna e democrática.
E que não precisemos outras vezes dizer o óbvio.
Brasil, junho de 2007
quarta-feira, agosto 22, 2007
só por falar
sexta-feira, agosto 17, 2007
A Fala do Recife (1977)
quinta-feira, agosto 16, 2007
Vá e Veja (Иди и смотри/Idi i Smotri/Come and See - URSS 1985)
Parte 2 de 14: http://www.youtube.com/watch?v=0hMCKQDdLps&mode=related&search=
Parte 3 de 14: http://www.youtube.com/watch?v=YXn0oSBv0Dg&mode=related&search=
Parte 4 de 14: http://www.youtube.com/watch?v=qOvyR97n3Pc&mode=related&search=
Parte 5 de 14: http://www.youtube.com/watch?v=RpbiuTr3lCw&mode=related&search=
Parte 6 de 14: http://www.youtube.com/watch?v=38lQjdLajVU&mode=related&search=
Parte 7 de 14: http://www.youtube.com/watch?v=S1PVbczaIJ8&mode=related&search=
Parte 8 de 14: http://www.youtube.com/watch?v=WcO4lmhTDrE&mode=related&search=
Parte 9 de 14: http://www.youtube.com/watch?v=SCMoVQQHoOc&mode=related&search=
Parte 10 de 14: http://www.youtube.com/watch?v=NsSfRRRcxK4&mode=related&search=
Parte 11 de 14: http://www.youtube.com/watch?v=ZxQEK8EQKTs&mode=related&search=
Parte 12 de 14: http://www.youtube.com/watch?v=Vbzblw3MF6w&mode=related&search=
Parte 13 de 14: http://www.youtube.com/watch?v=scjUVBFjhlQ&mode=related&search=
Parte 14 de 14: http://www.youtube.com/watch?v=rO29o45VIO8
sexta-feira, agosto 03, 2007
quinta-feira, agosto 02, 2007
A invenção da crise
por Marilena Chauí
Era o fim da tarde. Estava num hotel-fazenda com meus netos e resolvemos ver jogos do PAN-2007. Liguei a televisão e "caí" num canal que exibia um incêndio de imensas proporções enquanto a voz de um locutor dizia: "o governo matou 200 pessoas!". Fiquei estarrecida e minha primeira reação foi típica de sul-americana dos anos 1960: "Meu Deus! É como o
Fiquei ainda mais perplexa: como o locutor sabia qual a causa do acidente, se esta só é conhecida depois da abertura da caixa preta do avião? Enquanto me fazia esta pergunta e angustiada desejava saber o que havia ocorrido, pensando no desespero dos passageiros e de suas famílias, o locutor, por algum motivo, mudou a locução: surgiram expressões como "parece que", "pode ser que", "quando se souber o que aconteceu". E eu me disse: mas se é assim, como ele pôde dizer, há alguns segundos, que o governo cometeu o crime de assassinar 200 pessoas?
Mudei de canal. E a situação se repetia em todos os canais: primeiro, a afirmação peremptória de que se tratava de mais um episódio da crise do apagão aéreo; a seguir, que se tratava de mais uma calamidade produzida pelo governo Lula; em seguida, que não se sabia se a causa do acidente havia sido a pista molhada ou uma falha do avião. Pessoas eram entrevistadas para dizer (of course) o que sentiam. Autoridades de todo tipo eram trazidas à tela para explicar porque Lula era responsável pelo acidente. Etc.
Mas de todo o aparato espetacular de exploração da tragédia e de absoluto silêncio sobre a empresa aérea, que conta em seu passivo com mais de 10 acidentes entre 1996 e 2007 (incluindo o que matou o próprio dono da empresa!), o que me deixou paralisada foi o instante inicial do "noticiário", quando vi a primeira imagem e ouvi a primeira fala, isto é, a presença da guerra civil e do golpe de Estado. A desaparição da imagem do incêndio e a mudança das falas nos dias seguintes não alteraram minha primeira impressão: a grande mídia foi montando, primeiro, um cenário de guerra e, depois, de golpe de Estado. E, em certos casos, a atitude chega ao ridículo, estabelecendo relações entre o acidente da TAM, o governo Lula, Marx, Lênin e Stálin, mais o Muro de Berlim!!!
1) Que papel desempenhou a mídia brasileira - especialmente a televisão - na "crise aérea" ?
Meu relato já lhe dá uma idéia do que penso. O que mais impressiona é a velocidade com que a mídia determinou as causas do acidente, apontou responsáveis e definiu soluções urgentes e drásticas!
Mas acho que vale a pena lembrar o essencial: desde o governo FHC, há o projeto de privatizar a INFRAERO e o acidente da GOL, mais a atitude compreensível de auto-proteção assumida pelos controladores aéreos foi o estopim para iniciar uma campanha focalizando a incompetência governamental, de maneira a transformar numa verdade de fato e de direito a necessidade da privatização. É disso que se trata no plano dos interesses econômicos.
No plano político, a invenção da crise aérea simplesmente é mais um episódio do fato da mídia e certos setores oposicionistas não admitirem a legitimidade da reeleição de Lula, vista como ofensa pessoal à competência técnica e política da auto-denominada elite brasileira. É bom a gente não esquecer de uma afirmação paradigmática da mídia e desses setores oposicionistas no dia seguinte às eleições: "o povo votou contra a opinião pública". Eu acho essa afirmação o mais perfeito auto-retrato da mídia brasileira!
Do ponto de vista da operação midiática propriamente dita, é interessante observar que a mídia:
a) não dá às greves dos funcionários do INSS a mesma relevância que recebem as ações dos controladores aéreos, embora os efeitos sobre as vidas humanas sejam muito mais graves no primeiro caso do que no segundo. Mas pobre trabalhador nasceu para sofrer e morrer, não é? Já a classe média e a elite... bem, é diferente, não? A dedicação quase religiosa da mídia com os atrasos de aviões chega a ser comovente...
b) noticiou o acidente da TAM dando explicações como se fossem favas contadas sobre as causas do acontecimento antes que qualquer informação segura pudesse ser transmitida à população. Primeiro, atribuiu o acidente à pista de Congonhas e à Infraero; depois aos excessos da malha aérea, responsabilizando a ANAC; em seguida, depois de haver deixado bem marcada a responsabilidade do governo, levantou suspeitas sobre o piloto (novato, desconhecia o Airbus, errou na velocidade de pouso, etc.); passou como gato sobre brasas acerca da responsabilidade da TAM; fez afirmações sobre a extensão da pista principal de Congonhas como insuficiente, deixando de lado, por exemplo, que a de Santos Dumont e Pampulha são menos extensas;
c) estabeleceu ligações entre o acidente da GOL e o da TAM e de ambos com a posição dos controladores aéreos, da ANAC e da INFRAERO, levando a população a identificar fatos diferentes e sem ligação entre si, criando o sentimento de pânico, insegurança, cólera e indignação contra o governo Lula. Esses sentimentos foram aumentados com a foto de Marco Aurélio Garcia e a repetição descontextualizada de frases de Guido Mântega, Marta Suplicy e Lula;
d) definiu uma cronologia para a crise aérea dando-lhe um começo no acidente da GOL, quando se sabe que há mais de 15 anos o setor aéreo vem tendo problemas variados; em suma, produziu uma cronologia que faz coincidir os problemas do setor e o governo Lula;
e) vem deixando em silêncio a péssima atuação da TAM, que conta em seu passivo com mais de 10 acidentes, desde 1996, três deles ocorridos em Congonhas e um deles em Paris - e não dá para dizer que as condições áreas da França são inadequadas! A supervisão dos aparelhos é feita em menos de 15 minutos; defeitos são considerados sem gravidade e a decolagem autorizada, resultando em retornos quase imediatos ao ponto de partida; os pilotos voam mais tempo do que o recomendado; a rotatividade da mão de obra é intensa; a carga excede o peso permitido (consta que o Airbus acidentado estava com excesso de combustível por haver enchido os tanques acima do recomendado porque o combustível é mais barato
f) não dá (e sobretudo não deu nos primeiros dias) nenhuma atenção ao fato de que Congonhas, entre 1986 e 1994, só fazia ponte-aérea e, sem mais essa nem aquela, desde 1995 passou a fazer até operações internacionais. Por que será? Que aconteceu a partir de 1995?
g) não dá (e sobretudo não deu nos primeiros dias) nenhuma atenção ao fato de que, desde os anos
2) Como a sra. avalia a reação do Governo Lula à atuação da mídia nesse episódio ?
Fraca e decepcionante, como no caso do mensalão. Demorou para se manifestar. Quando o fez, se colocou na defensiva.
O que teria sido politicamente eficaz e adequado?
Já na primeira hora, entrar em rede nacional de rádio e televisão e expor à população o ocorrido, as providências tomadas e a necessidade de aguardar informações seguras.
Todos os dias, no chamado "horário nobre", entrar em rede nacional de rádio e televisão, expondo as ações do dia não só no tocante ao acidente, mas também com relação às questões aéreas nacionais, além de apresentar novos fatos e novas informações, desmentindo informações incorretas e alertando a população sobre isso.
Mobilizar os parlamentares e o PT para uma ação nacional de informação, esclarecimento e refutação imediata de notícias incorretas.
3) Em "Leituras da Crise", a sra. discute a tentativa do impeachment do Presidente na chamada "crise do mensalão". Há sra. vê sinais de uma nova tentativa de impeachment ?
Sim. Como eu disse acima, a mídia e setores da oposição política ainda estão inconformados com a reeleição de Lula e farão durante o segundo mandato o que fizeram durante o primeiro, isto é, a tentativa contínua de um golpe de Estado. Tentaram desestabilizar o governo usando como arma as ações da Polícia Federal e do Ministério Público e, depois, com o caso Renan (aliás, o governador Requião foi o único que teve a presença de espírito e a coragem política para indagar porque não houve uma CPI contra o presidente FHC, cuja história privada, durante a presidência, se assemelhou muito à de Renan Calheiros). Como nenhuma das duas tentativas funcionou, esperou-se que a "crise aérea" fizesse o serviço. Como isso não vai acontecer, vamos ver qual vai ser a próxima tentativa, pois isso vai ser assim durante quatro anos.
4) No fim de "Simulacro e Poder" a sra. diz: "... essa ideologia opera com a figura do especialista. Os meios de comunicação não só se alimentam dessa figura, mas não cessam de instituí-la como sujeito da comunicação ...Ideologicamente ... o poder da comunicação de massa não é igual ou semelhante ao da antiga ideologia burguesa, que realizava uma inculcação de valores e idéias. Dizendo-nos o que devemos pensar, sentir, falar e fazer, (a comunicação de massa) afirma que nada sabemos e seu poder se realiza como intimidação social e cultural... O que torna possível essa intimidação e a eficácia da operação dos especialistas ... é ... a presença cotidiana ... em todas as esferas da nossa existência ... essa capacidade é a competência suprema, a forma máxima de poder: o de criar realidade. Esse poder é ainda maior (igualando-se ao divino) quando, graças a instrumentos técnico-cientificos, essa realidade é virtual ou a virtualidade é real..." Qual a relação entre esse trecho de "Simulacro e Poder" e o que se passa hoje?
Antes de me referir à questão do virtual, gostaria de enfatizar a figura do especialista competente, isto é, daquele é supostamente portador de um saber que os demais não possuem e que lhe dá o direito e o poder de mandar, comandar, impor suas idéias e valores e dirigir as consciências e ações dos demais. Como vivemos na chamada "sociedade do conhecimento", isto é, uma sociedade na qual a ciência e a técnica se tornaram forças produtivas do capital e na qual a posse de conhecimentos ou de informações determina a quantidade e extensão de poder, o especialista tem um poder de intimidação social porque aparece como aquele que possui o conhecimento verdadeiro, enquanto os demais são ignorantes e incompetentes. Do ponto de vista da democracia, essa situação exige o trabalho incessante dos movimentos sociais e populares para afirmar sua competência social e política, reivindicar e defender direitos que assegurem sua validade como cidadãos e como seres humanos, que não podem ser invalidados pela ideologia da competência tecno-científica. E é essa suposta competência que aparece com toda força na produção do virtual.
Em "Simulacro e poder" em me refiro ao virtual produzido pelos novos meios tecnológicos de informação e comunicação, que substituem o espaço e o tempo reais - isto é, da percepção, da vivência individual e coletiva, da geografia e da história - por um espaço e um tempo reduzidos a um única dimensão; o espaço virtual só possui a dimensão do "aqui" (não há o distante e o próximo, o invisível, a diferença) e o tempo virtual só possui a dimensão do "agora" (não há o antes e o depois, o passado e o futuro, o escoamento e o fluxo temporais). Ora, as experiências de espaço e tempo são determinantes de noções como identidade e alteridade, subjetividade e objetividade, causalidade, necessidade, liberdade, finalidade, acaso, contingência, desejo, virtude, vício, etc. Isso significa que as categorias de que dispomos para pensar o mundo deixam de ser operantes quando passamos para o plano do virtual e este substitui a realidade por algo outro, ou uma "realidade" outra, produzida exclusivamente por meios tecnológicos. Como se trata da produção de uma "realidade", trata-se de um ato de criação, que outrora as religiões atribuíam ao divino e a filosofia atribuía à natureza. Os meios de informação e comunicação julgam ter tomado o lugar dos deuses e da natureza e por isso são onipotentes - ou melhor, acreditam-se onipotentes. Penso que a mídia absorve esse aspecto metafísico das novas tecnologias, o transforma em ideologia e se coloca a si mesma como poder criador de realidade: o mundo é o que está na tela da televisão, do computador ou do celular. A "crise aérea" a partir da encenação espetacularizada da tragédia do acidente do avião da TAM é um caso exemplar de criação de "realidade".
Mas essa onipotência da mídia tem sido contestada socialmente, politicamente e artisticamente: o que se passa hoje no Iraque, a revolta dos jovens franceses de origem africana e oriental, o fracasso do golpe contra Chavez, na Venezuela, a "crise do mensalão" e a "crise aérea", no Brasil, um livro como "O apanhador de pipas" ou um filme como "Filhos da Esperança" são bons exemplos da contestação dessa onipotência midiática fundada na tecnologia do virtual.
Marilena Chauí é filósofa e professora da Faculdade de Letras e Ciências Humanas da USP
http://conversa-afiada.ig.com.br/materias/446501-447000/446655/446655_1.html